Escritor considera que, na província moçambicana de Cabo Delgado, a Humanidade e a vida estão postas em causa…

A entrevista é de Maria João Costa, publicada por Renascença, 27-11-2020.
http://www.ihu.unisinos.br
Mia Couto considera que, sozinho, Moçambique não consegue responder à vaga de violência que se vive na região de Cabo Delgado. O escritor, que vive em Maputo, denuncia atentados contra a Humanidade naquela região e admite que aos moçambicanos só resta “pedir socorro”.
Em entrevista à Renascença, o autor chega a afirmar que é “mais grave do que a pandemia”, aquilo que se passa em Cabo Delgado.
(…)
Têm chegado diariamente relatos de violência em Moçambique, na região norte de Cabo Delgado. A população foge da violência, há notícias de decapitações. Como é que vê o que se passa em Cabo Delgado.
Isto é um drama que temos dificuldade em compreender que esteja a acontecer em Moçambique. É um drama numa proporção que é bem mais grave do que a pandemia de Covid-19. Nós, temos todos os dias sinais de que isto não é uma guerra que se faz e que se ganha por via militar.
Não temos nenhuma possibilidade de entrar em negociação com estas pessoas que estão todos os dias degolando, desmembrando ou usando uma violência que não tem nome. Isso causa-nos um sentimento de impotência enorme. A primeira grande tentação é pedir socorro. O contorno e a dimensão que esta agressão tem, faz adivinhar que sozinhos não seremos capazes de fazer face a isto.
É necessária uma intervenção internacional?
Sem dúvida. O que está aqui em causa, não é Moçambique, nem Cabo Delgado. O que está aqui em causa, é toda a Humanidade e o respeito pela vida. Já não digo, o respeito pela democracia, mas o respeito pela vida humana. É isso que está em causa. Estas pessoas, nem se quer sabemos lhes dar um nome. Chamamos insurgentes, agora chamamos terroristas, mas o ponto é que não percebemos se há aqui um projeto político que é claro e com o qual se possa dialogar. Neste caso, não existe a possibilidade de dialogar com o outro lado.
Moçambique. Missão católica de Nangololo, segunda mais antiga da Diocese de Pemba, foi destruída pelos terroristas – Fundação AIS
A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) informou, em nota enviada à Agência Ecclesia, que a missão católica de Nangololo, a segunda mais antiga da Diocese de Pemba, Moçambique, “foi destruída pelos terroristas”.
O secretariado português da AIS cita o relato enviado, desde o país africano, pelo padre Edegard Silva, missionário brasileiro.
A missão de Nangololo, situada no Distrito de Muidumbe, foi “atacada, ocupada e destruída pelos grupos armados que estão a espalhar o terror e a morte na província de Cabo Delgado, em Moçambique”.
“Toda população foge para o mato. Nós refugiamo-nos em Pemba”, indica o sacerdote.
Os relatos que chegam a Pemba dão conta também de “massacres”.
“Pelos caminhos, estão a encontrar muitos corpos já em decomposição e que aconteceram massacres. As ações dos terroristas são violentas, muitas pessoas foram decapitadas, casas queimadas e derrubadas”, alerta o padre Edegard Silva.
Estima-se que 500 mil deslocados se encontrem em Cabo Delgado, como consequência dos ataques de grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, o Estado Islâmico.
http://www.ihu.unisinos.br
24 Novembro 2020