P. Manuel João, comboniano
Reflexão do Domingo
da boca da mia baleia, a ELA
A nossa cruz é o pulpito da Palavra

Finalmente, uma verdadeira NOVIDADE! 

Ano A – Domingo da Ressurreição.
Vigília Pascal: Mateus 28,1-10
Domingo de Páscoa: João 20,1-9

O que foi é o que será.
O que aconteceu é o que há de acontecer.
Não há nada de novo debaixo do sol.
Se é encontrada alguma coisa da qual se diz:
“Veja, isto é novo”,
ela já existia nos tempos passados.

(Qohelet 1,9-10)

Eis, Qohelet, isto sim que é uma NOVIDADE! Um homem, Jesus de Nazaré, que a morte tinha ceifado e o túmulo tinha encerrado, emerge vivo, vitorioso sobre a morte. É o dia 9 de Abril do ano 30. Interroga os tempos passados. Nada disto tinha antes acontecido! Desta vez, o inacreditável aconteceu. E nós testemunhamo-lo! E corremos, com os corações a rebentar no peito, com lágrimas de alegria depois das lágrimas de desespero, ansiosos por dizer a todos: Cristo Ressuscitou!

E, a partir de agora, tudo muda. Nada mais será como dantes! Qohelet, não continues a odiar a vida (2,17)! Não continues a dizer “felizes os mortos, agora falecidos, mais do que aqueles que ainda continuam a viver” (4:2)! Pois…

A morte e a vida
travaram um admirável combate:
Depois de morto,
vive e reina o Autor da vida.
Sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos!
(Sequência da Páscoa)

A Corrida da Missão

A partir desse 9 de Abril, começou a corrida missionária: “Ide e anunciai aos meus irmãos que eles devem ir para a Galileia: lá me verão” (Mateus 28,10). E os seguidores do ‘caminho’ (ver Actos dos Apóstolos), incansáveis – porque nunca se cansa quando o coração está contente! – percorreram todas as ruas e estradas da ‘Galileia’, das periferias do mundo, ansiosos por comunicar a todos esta Boa Nova inaudita.

Lembro-me de uma história contada por um dos meus confrades combonianos, o P. Antonio La Braca, que percorre caminhos e trilhos do Sul do Sudão há quase quarenta anos. Chegado a uma aldeia onde o evangelho ainda não tinha chegado, pediu ao chefe que reunisse toda a comunidade. Uma vez reunido o povo, comunicou-lhes o kerigma cristão: Cristo morto e ressuscitado. 
A este ponto, um jovem e orgulhoso guerreiro levantou-se e disse-lhe: “Branco, não venhas contar-nos histórias de crianças. Quando é que um homem morto pode voltar à vida!?” E, mostrando-lhe o peito, acrescentou-lhe: “Vês estas tatuagens? Cada marca é um inimigo que eu matei em combate! Sabe que nenhum deles voltou para me perturbar, nem mesmo em sonhos!” 
O Padre La Braca respondeu-lhe: “E tu pensas que, se a ressurreição dos mortos fosse uma coisa comum, eu teria percorrido milhares de quilómetros, atravessado rios e enfrentado perigos para vir aqui e contar-te? É porque é um facto único e sem precedentes que vim ter convosco para vo-lo contar. Porque, se Cristo ressuscitou, isso significa que a Sua mensagem é verdadeira e vem de Deus. E Ele diz-nos que devemos amar a todos, mesmo os nossos inimigos”! 

Que Cristo vivemos e proclamamos?

Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo?” (Lucas 24,5), os anjos perguntam às mulheres. As mulheres procuram Jesus “à maneira antiga,” como se ele não tivesse ressuscitado, para fazer uma boa acção em benefício do seu corpo. A entrada na história da novidade de Deus, porém, leva a uma “nova” busca de Jesus! 

A busca de Jesus à maneira antiga, própria do homem antes da ressurreição, é a tentativa contínua e repetida de procurar Jesus no moralismo cristão: uma busca que sabe a vinho velho, e por isso agrada… O Crucificado ajuda-me a continuar o caminho: apoio-me nele para fazer algo de bom diante de Deus… 

Permanecemos, assim, no velho mundo fechado, no qual nada muda, no qual o Senhor Crucificado e Ressuscitado simplesmente representa algo mais, um estímulo maior para os nossos esforços. “Cristo ressuscitou, mas agora o que devo eu fazer?” Este “mas” é um sinal de que ainda não aceitámos o Cristo ressuscitado!

Qual é a nossa procura de Jesus, a velha busca ou a nova? A do Crucificado ou a do Ressuscitado? Quando a ressurreição é verdadeiramente vivida, não nos deixa indiferentes, não nos deixa como antes. Provoca uma nova visao da existencia e um novo estilo de vida. Como o homem que encontrou o tesouro. Perguntemo-nos se realmente acreditamos que Jesus ressuscitou, se realmente acreditamos que há algo de “novo” nas nossas vidas!
(Reflexões inspiradas no livro do Cardeal Martini, Os Exercícios Inacianos na Luz do Evangelho de Mateus

Coloca a Luz do Ressuscitado no candelabro da tua casa!

“Não se acende uma lâmpada para a colocar debaixo de um alqueire, mas no candelabro, e assim dá luz a todos os que estão na casa” (Mateus 5,15). A luta entre a vida e a morte, entre a luz e as trevas continua em nós, na comunidade cristã, na Igreja, na sociedade e no mundo. A tarefa do cristão é colocar a Luz no candelabro da casa do seu coracao, do local de vida e de trabalho. A tentação será sempre colocá-la debaixo do alqueire dos nossos velhos parâmetros mundanos, extinguindo a novidade.

“Hoje é Páscoa, mesmo que não sejamos almas pascais: o sepulcro abre-se igualmente de par em par, e o Aleluia da vida exulta no ar e nos campos; mas quem nas estradas do homem, esta manhã, sabe caminhar ao seu lado e, pelo caminho, aquececer-lhe o coração?” (Primo Mazzolari).

Uma Páscoa santa e feliz!

P. Manuel João Pereira Correia mccj

Castel d’Azzano (Verona), 6 de Abril de 2023