Um texto de Henri Nouwen para cada dia da Quaresma
28. A armadilha da auto-rejeição
A auto-rejeição é o pior inimigo da vida espiritual, porque contradiz a voz sagrada que nos chama pelo nome de «amados». Ser amado exprime a verdade central da nossa existência. (…) O que conta realmente é que somos os «amados». Fomos intimamente amados muito antes de os nossos pais, professores, cônjuges, filhos e amigos nos terem amado ou ofendido. Esta é a verdade da nossa vida. (…) Sempre que escutares com atenção a voz que te chama «amado», descobrirás no mais íntimo de ti o desejo de tornar a ouvir essa voz ainda por mais tempo e com maior profundidade. É como descobrir uma fonte de água no deserto: logo que se encontra terra húmida, dá vontade de cavar ainda mais fundo. Tenho vindo a «escavar» bastante nos últimos tempos e sei que ainda só comecei a ver correr um pequeno riacho que serpenteia pela areia árida. Mas há que continuar a escavar, porque esse pequeno riacho provém dum enorme reservatório sob o deserto da minha vida. A palavra «escavar» talvez não seja a melhor, pois sugere trabalho duro e penoso, mas sei que é uma operação que me leva finalmente ao lugar onde posso matar a sede. O que é preciso é, talvez, remover a areia árida que cobre a fonte de água. Talvez haja uma quantidade bastante grande de areia árida na nossa vida, mas Aquele que tanto deseja matar-nos a sede, ajudar-nos-á a remover essa areia. O que precisamos é de um grande desejo de encontrar água e de beber. – Henri Nouwen, em Viver é ser amado