Um texto de Henri Nouwen para cada dia da Quaresma

19. Uma vida agradecida

19. Uma vida agradecida

Como poderemos viver realmente uma vida em acção de graças? Quando olhamos para trás e vemos tudo o que nos aconteceu, facilmente dividimos a nossa vida em várias fases, com coisas boas a agradecer e coisas más para esquecer. Mas, como um passado assim dividido, não podemos caminhar livremente em direcção ao futuro. Com tantas coisas para esquecer, o máximo que podemos fazer é coxear rumo ao futuro. A gratidão espiritual abarca todo o nosso passado, tanto os bons como os maus eventos, tanto os momentos alegres como os tristes. Do lugar em que nos encontramos, podemos concluir que tudo o que nos aconteceu nos trouxe a este lugar. Recordemos tudo isso como parte do plano de Deus que nos conduz. Isso não quer dizer que tudo o que nos aconteceu no passado seja bom, mas quer dizer que mesmo o mal não aconteceu fora da presença amorosa de Deus. Os sofrimentos do próprio Jesus foram-lhe causados pelas forças das trevas. Mesmo assim, Ele fala dos seus sofrimentos e morte como o caminho da glória. É muito difícil colocar todo o nosso passado sob a luz da gratidão. Há muitas coisas de que nos sentimos culpados e envergonhados, muitas coisas que desejaríamos que pura e simplesmente não tivessem acontecido. Mas, cada vez que temos a coragem de olhar para elas «na sua totalidade» e de as ver como Deus as vê, então a nossa culpa torna-se uma culpa feliz e a nossa vergonha uma vergonha feliz, porque provocam em nós um reconhecimento mais profundo da misericórdia de Deus, uma convicção mais forte de que é Deus quem nos conduz e um empenho mais radical na aceitação da vida ao serviço de Deus. Desde que todo o nosso passado seja recordado com gratidão, adquirimos a liberdade para ser enviados para o mundo a proclamar a Boa Nova aos outros. Assim como as negações de Pedro não o paralisaram, mas, uma vez perdoado, se tornaram uma nova fonte de fidelidade, assim também as nossas falhas e traições podem transformar-se em gratidão e capacitar-nos a ser mensageiros de esperança. – Henri Nouwen, em Aqui e Agora