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NOTICIAS DESDE JUBA
do Pe. Raimundo Rocha, mccj  (11 de agosto de 2015)

Caros amigos e amigas, paz.
Escrevo a vocês mais uma vez com notícias sobre a crise polítco-militar e econômica que atravessa o Sudão do Sul e sobre os impactos devastadores que essa crise vem causando na população. Como sabem, o Sudão do Sul é o país mais jovem do mundo e fica no coração da África. Conseguiu sua independência no dia 9 de julho de 2011, portanto, tem apenas quatro anos. Apesar de sua enorme riqueza humana e cultural e de seus muitos recursos naturais, sobretudo petróleo, é também um dos países mais pobres do mundo.

Infelizmente depois de dois anos de independência uma crise política mal administrada desencadeou uma trágica guerra civil que já dura 20 meses. O principal motivo dessa crise é uma disputa interna por poder entre a elite política.

Essa guerra tem tido um efeito devastador na população. O país que já sofria com uma situação de extrema pobreza agora enfrenta uma crise humanitária sem precendentes. Mais de dois milhões de pessoas foram deslocadas de suas casas. Dessas, um milhão e meio são deslocados de guerra internos, dezenas de milhares deles estão nas bases de proteção de civis da ONU. Mais de meio milhão se tornaram refugiadas de guerra nos países vizinhos. Não se sabe ao certo quantas pessoas morreram. Estima-se que mais de 30 mil pessoas.

A economia do país está à beira do abismo. A produção de petróleo caiu mais da metade. Alimentos e bens de consumo sobem de preço quase todo dia. O desemprego é alto. Cresce também a insegurança por todo lado. Existe uma “militarização” da população civil e uma crescente onda de roubos à residências e a indivíduos.

Essa crise é essencialmente político-militar e foi polarizada entre governo e oposição (antes chamada de rebeldes). Todavia, tem também alguns contornos étnicos, haja visto que o presidente do país e o seu vice, que foi deposto e agora é líder da oposição, pertecem às duas maiores etnias do Sudão do Sul (Dinka e Nuer), as quais historicamente tiveram algumas rivalidades, apesar do fato de que no geral co-existem pacificamente.

Os conflitos se concetram, sobretudo, na região nordeste do país, que é a área produtora de petróleo. Boa parte do país, incluindo a capital Juba, está fora da zona de guerra, mas também sofre as consequências.

Agências da ONU e organizações internacionais de direitos humanos tem produzidos relatórios alarmantes de violações gritantes de direitos humanos, tais como ataques diretos à população civil, matanças indiscriminadas, pessoas queimadas vivas, decapitadas, recrutamento forçado de jovens e crianças, jovens e crianças sequestratas, jovens e mulheres adultas violentadas, casas queimadas, propriedades públicas e privadas saqueadas e destruídas e rebanhos roubados.

Porém, por aqui nem tudo é guerra, destruição e morte. Há também sinais de vida e esperança. Dezenas de ONGs, agências da ONU e Igrejas assistem à população mais afetada pelos conflitos com vários serviços de ajuda humanitária: alimentos, remédios, abrigo e proteção civil, roupas, escolas, sementes e ferramentas para pesca e cultivo, etc, além de assitência psico-espiritual para auxiliar na superação dos traumas causados pela guerra.

Nesses vinte meses de conflitos a Igreja Católica (e outras) tem sindo uma grande mãe. É uma das poucas instituições no país que permanece na zona dos conflitos e goza de muita credibilidade por parte da população e governo. Os missionários dão um grande testemunho de fé e solidariedade. Apesar dos riscos e perigos, continuam presentes nas áreas de conflitos e nas bases da ONU junto ao povo sofrido para lhes dar conforto, encorajamento e esperança. A Igreja também está diretamente envolvida nas negociações de paz e no processo de reconciliação.

Estamos vivendo uma semana de muitas expectativas e, de certo modo, também de dúvidas. A quarta rodada de negociações de paz entre as duas partes principais do conflito (governo e oposição) foi iniciada na Etiópia. Há uma forte pressão por parte das Igrejas e da Communidade Internacional para que um acordo de paz definitivo seja assinado. O prazo é o próximo dia 17 de agosto. Há, porém, certa descrença, porque os líderes políticos não parecem estar convencidos de quererem resolver a crise através do diálogo, não querem dividir o poder, pensam mais em si que no povo e querem mais ações militares. Se o tão esperado e necessário acordo de paz não for assinado na próxima semana, a situação que já é caótica, pode piorar e muito.

Por isso, lhes escrevo não somente para dar essas notícias (frequentemente omitidas por muitos meios de comunicação), mas também para pedir que vocês rezem conosco pela paz, reconciliação e justiça no Sudão do Sul. Convido também a rezarem pelos nossos missionários, sobretudo pelos Missionários Combonianos e Combonianas que estão no meio do povo afetado pela guerra.

Se possível, encontrem também outras formas de solidariedade e ajuda para este povo sofrido e para continuar a missão evangelizadora do Reino de Deus no Sudão do Sul. Esse povo precisa viver em paz e com dignidade e o Evangelho não pode parar.

Que Deus abençoe a todos vocês e suas famílias e nos dê a paz.

Com carinho, gratidão e muito axé,

Pe. Raimundo Rocha, mccj

Missionário Comboniano – Juba, Sudão do Sul – África

ORAÇÃO PELA PAZ NO SUDÃO DO SUL

Deus de amor e misericórdia,

Vós criastes pessoas de cada clã,

tribo e nacionalidade.

É vossa vontade que todos os povos possam

viver em paz, harmonia e unidade.

Somos todos irmãs e irmãos.

Pedimos-vos perdão pelas vezes

que não vivemos em paz.

Curai as nossas feridas e ajudai-nos

a reconciliar-nos uns com os outros.

Nós também rezamos pelos nossos líderes.

Concedei-lhes a sabedoria divina

e ajudai-os a promover o respeito,

a paz, o amor, a unidade, a justiça

e a verdadeira reconciliação

para que cada clã e tribo no Sudão do Sul

possam viver em paz e harmonia.

Nós vos pedimos por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Amém.