Avvento 2

Referências bíblicas

  • 1ª leitura: O Senhor reunirá todas as nações na paz eterna do Reino de Deus (Isaías 2,1-5)
  • Salmo: Sl. 121(122) – R/ Que alegria quando me disseram: “vamos à casa do Senhor!”
  • 2ª leitura: “Agora, a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé” (Romanos 13,11-14)
  • Evangelho: Vigiai também vós e ficai preparados (Mateus 24,37-44)

A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Porque, nos dias antes do dilúvio todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio, e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado, e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada, a outra será deixada. Portanto, fiquem vigiando! Porque vocês não sabem em que dia virá o Senhor de vocês. Compreendam bem isto: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente ficaria vigiando, e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vocês estejam preparados. Porque o Filho do Homem virá na hora em que vocês menos esperarem.

O tempo do desejo

A fé no Cristo dá origem imediatamente a uma “religião” do desejo. De fato, ela faz com que nos voltemos para o futuro, para o que vem; para Aquele que vem. Diante de tudo o que se passa no mundo, há os que fogem da confusão, indo buscar uma situação de conforto, de privilégio, ao abrigo de golpes e choques; os discípulos de Cristo recusam esta evasão.

Outros se revoltam e recorrem à violência; os discípulos de Cristo sabem que isto só faz multiplicar o mal inicial. Poderíamos citar diversas outras maneiras de se esquivar, mas a fé cristã recusa todas. A nossa fé está situada nos antípodas da resignação e, seguidamente, faz o nosso olhar voltar-se para a Potência que nos faz existir.

Esperamos e desejamos a vinda da Vida. O Livro da Primeira Aliança está cheio desta esperança, que se exprime muitas vezes por lamentações, gritos de apelo, intimações vigorosas a este Deus que tarda demais. Tudo isto se resume na espera do Reino de Deus. Na Nova Aliança, a tomada do poder por Deus está expressa no tema da volta, ou melhor, da última vinda de Cristo.

Assim, pois, aqui estamos nós, voltados para o futuro, para Aquele que vem. À primeira vista, se põem muitas questões: como esperamos a “intervenção de Deus“, será que ainda temos alguma coisa a fazer? Não haverá aí, nesta espera, algo de mítico? Uma espécie de “deus ex machina“? Vamos buscar ver mais claro.

A vinda de Cristo no presente

Em primeiro lugar, é preciso conjugar o nosso texto com outras palavras de Jesus, quando nos diz, por exemplo, que o Reino de Deus já está aí, que ele está em nós, ou entre nós, ou no meio de nós (Mateus 5;12,28. Luc 17,20-21… ).

Assim como já somos filhos de Deus, mesmo que de modo ainda não manifesto, assim também o Reino está aí, desde que entre nós reine o mesmo amor tal como Cristo o viveu. É ilusório dizer, como tantas vezes se tem ouvido, que temos de fazer ou de construir o Reino de Deus.

A vinda do Cristo é um dom, e temos o poder de recebê-lo e transmiti-lo: o amor que nos vem de Deus, e que é Deus, pode nos atravessar para ir até aos outros. O Reino de Deus, portanto, que se confunde com a vinda do Cristo, já está em operação desde o começo e estará até o final, quando se revelará em plena luz. Então, poderemos reler a nossa vida em função do acolhimento dado ao Reino.

O “julgamento“, que pode nos fazer tremer ou nos deixar céticos, será portanto este: os nossos olhos é que se abrirão à luz. Felizmente, como nos diz Paulo, “tudo o que é condenável é manifesto pela luz, pois é luz tudo o que é manifesto” (Efésios 5,13-14).

O Cristo é, pois, aquele que veio, que vem e que virá. O tempo do Advento vem de novo nos dizer tudo isso para que permaneçamos conscientes do mistério que nos envolve, desta presença que se faz presente novamente, sem cessar, sempre nova e imprevisível.

A espera e o encontro permanentes de Deus

Se não devemos acreditar nestes que dizem “Está aqui; está ali“, é porque Ele está em toda parte, “do Oriente ao Ocidente“. Ele vem ao nosso encontro em nossas alegrias, em nossas tristezas, em nossos períodos de vazio. Cada vez que o acolhemos, entramos no Reino.

Será preciso repetir que é através dos outros que Ele vem até nós, e que, se este Reino está “entre nós“, é porque Ele reside na qualidade dos laços pelos quais nos atamos aos outros? A este respeito, podemos reler Mateus 25,31-46, interpretando o final inquietante deste texto à luz de Efésios 5,13-14, já citado.

Sabemos que o Novo Testamento veicula duas linhas, duas tradições contraditórias: uma, que anuncia o perdão para todos, inclusive para os carrascos (reler os relatos da Paixão) e, a outra, que reconduz às antigas maldições para os “injustos“.

A meu ver, é, contudo, a Páscoa que diz a última palavra: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem.” De todo modo, o Evangelho nos prescreve uma espera e um desejo permanentes, a aspiração de ir mais além do que o que constitui a nossa vida até aqui, na certeza de que Deus vem seguidamente nos habitar.

Santo Agostinho explica que este desejo não tem necessidade de ser consciente, mas que pode e deve ser subjacente a todas as ocupações que a existência nos impõe. Como disse Jesus, felizes são estes a quem o Mestre, em sua volta, encontrar ocupados com a sua tarefa, uma tarefa que já deve ser recebida e vivida como um dom de Deus.

Cortesia de
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Em cada ano, no tempo do Advento, a liturgia da Igreja nos mobiliza a esperar. Nem sempre caímos na conta que tenhamos a Quem esperar. Então, nos dispersamos “esperando algo”, vivendo a lenta e inevitável fila das esperas.

Como seres humanos, fomos feitos para esperar: esperar um filho, esperar um trabalho, esperar o resultado de um exame médico, esperar que as coisas melhorem, esperar que saia o sol… Trata-se de uma sucessão interminável de esperas, algumas vezes infrutíferas, indesejadas e angustiosas, outras vezes surpreendentes, plenificantes… Às vezes esperamos sem saber muito bem o quê ou quem esperamos, como os dois personagens do filme “Esperando Godot”, que nunca souberam a quem esperavam, nem por que esperavam, nem se, efetivamente, chegaria o esperado Godot.

Outras vezes, a espera se vê realizada, mas o resultado da mesma é tão pífio, tão frustrante, que os “esperantes” terminam por pensar se valeu a pena tanta mobilização. Existem também esperas doentias, que provocam ansiedade, medo e nos paralisam; esperas centradas em nós mesmos.

Esperar, para quê? a quem? de onde nasce a necessidade de esperar?

Vivemos tempos carregados de “pressas” que nos mantém tensos; queremos resultados imediatos e nos angustiamos na impaciência. Mas a vida cristã precisa de muito Advento, muita espera e paciência. No interior de nossas entranhas brota uma voz serena: “Dá prá esperar?”

Só quem é movido a “sentir o tempo” de modo novo pode habitá-lo com intensidade em todas as etapas da vida. Cada momento esconde sua pérola e é muito instigante poder descobrí-la.

A vida cristã é uma vida de espera, mas se trata de uma espera carregada de esperança. Esperar é uma forma de viver, um hábito de vida. Nós somos o que esperamos. “Só quem espera pode ver”.

Estamos no tempo litúrgico da espera, que nos motiva a esperar, mas a esperar com esperança, sabendo a Quem esperamos; mais ainda, sabemos que, Aquele que esperamos, já chegou, que já está entre nós, que as promessas esperadas já estão cumpridas. Deus vem a nós e a nossa espera ativa é a nossa maneira de ir até Ele. Aquele que esperamos já está presente, dando um sentido de eternidade à nossa espera.

Espera que nos faz criativos, intuitivos, sonhadores… Espera que nos faz sair de nós mesmos, abrir-nos à realidade que nos cerca e crescer em comunhão com tantos que nos esperam. Espera que nos descentra.

“Diga-me o que você espera e vou lhe dizer quem você é”. A espera revela nossa identidade, aponta para onde está nosso coração.

O “que” ou “quem” esperamos? Se não sabemos o que esperamos, a vida perde sabor e sentido; quem não espera, não busca, não amadurece. No supermercado da vida há muitas ofertas que pretendem preencher o vazio da espera, mas não tem consistência, não nos saciam, não nos preenchem, e não nos indicam um horizonte de sentido. O maior inimigo da espera é a dispersão, ou seja, apego ao imediato e à rotina da vida: “comer, beber, casar… como nos tempos de Noé”, Vivemos tempos de dispersão, cativados pela mídia, pelas ofertas alucinantes… Isso corrói nossa interioridade, nossa visão se atrofia e o horizonte fica obscurecido. A espera vigilante implica ampliar o olhar para além dos nossos pequenos interesses.

Advento é tempo propício para ampliar a visão. Deus não criou as fronteiras; podemos olhar mais além, lançar por terra os limites inventados, desfazer os muros que nos mantém numa vida normótica e repetitiva.

A espera vigilante pede um olhar de longo alcance e, ao mesmo tempo, um olhar que capta os pequenos sinais da Presença d’Aquele que sempre está vindo, no cotidiano da vida.

Na espera corremos dois riscos: fixar-nos somente no horizonte e aguardar vindas extraordinárias, fora do normal… desviando o nosso olhar das vindas d’Aquele que se faz presente na simplicidade da vida.

Outro risco é ter uma visão atrofiada, limitada ao cotidiano da vida e perdendo-nos na confusão de sinais e vozes que daí brotam. É preciso integrar os dois movimentos. É preciso ter um horizonte de sentido que nos ajude a discernir e distinguir tais sinais.

Do cotidiano aos largos horizontes (amplitude de visão e de vida) e dos largos horizontes ao cotidiano (dar sentido ao nosso chão cotidiano). “Não ter medo do máximo e caber no mínimo: isso é divino”.

Advento não é aguardar Alguém ausente; mas despertar para se fazer presente Àquele que está sempre presente. Esperar é “estar acordado”, no sentido de estar atento e também no sentido musical de “estar afinado”, sintonizado com a Presença que se “des-vela” sempre inesperada, surpreendente e provocativa.

Para dar lugar Àquele que vem sem cessar, é preciso alargar espaço em nossas vidas, expandir nosso coração, aliviar nossas agendas e realizar gestos de serviço que nos fazem crescer em comunhão.

A espera de Alguém desperta nossa sensibilidade para perceber que Aquele que esperamos já está presente; nós é que estamos cegos e surdos aos sinais e vozes de sua presença.

O convite de Jesus a viver vigilantes é um chamado a refazer nossa leitura dos acontecimentos, a aprender a lê-los a partir do amor que quer abrir passagem em nós.

Não estamos simplesmente “esperando Godot” para entreter o tempo e a vida. A espera não se reduz à espera mesma: ela tem conteúdo. O Salvador não cessou de vir; vem diariamente a nossos mundos (família, trabalho, relações, descanso…), vem para dar à nossa vida a profundidade e largura de seu amor, para que a Criação inteira recupere a beleza, a harmonia e a liberdade que desfrutava quando saiu das mãos do Criador.

A maneira de nos situar na vida muda quando ansiosamente esperamos Alguém: nosso coração se dilata e a vida se torna mais leve. Aquele que esteve, está e estará sempre presente, não vem para complicar nossa vida. Quantas pessoas vemos com o rosto sombrio, como se acreditassem que já não lhes aguarda nada novo, como se em suas vidas tudo estivesse pré-determinado, sem nenhuma possibilidade de mudança!

Advento quer abrir uma brecha naquilo que já conhecemos e sabemos para preparar-nos para receber a força incomparável de uma alegria que quer alcançar nossas vidas.

Esperar nos faz assumir a atitude de sentinelas que, numa posição elevada, é capaz de ler a realidade, vislumbrar o novo e assumir atitudes coerentes.

É de dentro das circunstâncias que atravessamos que Deus não cessa de nos buscar e de nos surpreender.

Para meditar na oração

A espera do Advento é mobilizadora, pois ativa nossas melhores energias e desata ricas possibilidades latentes em nós. Deus vem oferecer-nos infinitas possibilidades de viver de outra maneira.

– O que espero no início deste novo tempo litúrgico: esperar atrofiado, rotineiro… ou esperar criativo e ousado?

Cortesia de
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Inicia hoje o tempo do Advento, “sacramento” da espera daquele evento que constituirá o cumprimento da história: a vinda na glória do Senhor Jesus, do Filho do homem, o Dia em que finalmente será instaurado o Reino de justiça e de paz que Jesus anunciou e preparou com a sua vida, morte e ressurreição.

Sim, “Jesus Cristo virá na glória para julgar os vivos e os mortos”: se a nossa fé não contivesse essa promessa de Deus e não nos abrisse para essa esperança, nós, cristãos, seríamos os mais infelizes de todos os homens (cf. 1Cor 15,19)…

Na página do Evangelho segundo Mateus sobre a qual meditamos, Jesus adverte os seus discípulos sobre como se preparar para esse dia. Ele parte de uma afirmação crucial: “Quanto a esse dia e essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos do céu, nem o Filho. Somente o Pai é quem sabe” (Mt 24,36).

Essa perspectiva não quer nos desencorajar; pelo contrário, ela pode infundir em nós a certeza de que o Pai, no seu amor pela humanidade e pela criação, prepara essa hora e a revelará no momento oportuno. Animados por essa confiança, mais forte do que os eventos que parecem contradizê-la, escutemos, portanto, as palavras do Senhor.

Ele institui um paralelo entre o dilúvio, que abalou a cotidianidade repetitiva da vida dos contemporâneos de Noé (cf. Gn 6,5-9,17), e a vinda do Filho do Homem: “Nos dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem”.

“E eles nada perceberam”: a geração de Noé não é mais malvada do que as outras, mas a sua culpa consiste na falta de consciência, de discernimento e de espera. A exemplo de Noé, pertencente àquela geração, mas capaz de uma responsabilidade ativa, portanto, somos chamados a discernir o tempo em que vivemos, a aderir com inteligência à nossa realidade pessoal e à história em que estamos inseridos. Devemos perceber no hoje os sinais que antecipam o Dia do Senhor e devemos fazer isso logo, porque depois não haverá mais tempo: então “dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado”…

Somente quem vive essa “consciência do tempo” (cf. Rm 13,11) pode acolher a advertência de Jesus: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor”. O cristão deveria ser, por definição, uma pessoa vigilante, atenta, estendida à meta do seu caminho: o encontro com o Senhor que vem. E a vigilância requer uma grande capacidade de oração e de luta interior para não ficarmos desorientados, à mercê de falsos afãs, presas do atordoamento (cf. Lc 21,34-36).

Em outras palavras, o fiel é chamado a conhecer o hoje a partir da vinda do Senhor e da sua dimensão de desconhecido, descrita por Jesus com palavras que se imprimiram na mente dos seus discípulos: “Se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada” (cf. 1Ts 5,2-4; 2Pd 3,10; Ap 3,3). Delas, decorre a última advertência sintética de Jesus: “Também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.

Estar consciente, vigiar, estar à espera: tudo isso é uma questão de amor por Jesus Cristo, de adesão a Ele, o único Senhor das nossas vidas. Nós, cristãos, devemos ser aqueles que “amam a vinda do Senhor Jesus Cristo” (2 Tm 4,8) porque “amam a ele, o Senhor, sem tê-lo visto” (1Pd 1,9) e, portanto, desejam que ele venha o mais rápido possível.

Nesse sentido, é mais atual do que nunca a pergunta de Teilhard de Chardin: “Cristãos, encarregados de manter viva a chama ardente do desejo, o que fizemos com a espera do Senhor?”.

Por cortesia de
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Neste início do tempo de Advento, regressa com força imperativo da vigilância(evangelho): “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o vosso Senhor virá. Procurai compreender estas coisas… estai prontos” (v. 42-44). Os exemplos que Jesus usa – a experiência da gente nos dias de Noé, na época do dilúvio (v. 37-39) e a chegada do ladrão na hora que não se espera (v. 43) – não têm a finalidade de incutir terror, mas somente de estimular à vigilância e de animar a esperança do encontro com o Salvador. A vigilância não é algo de especulativo, mas a capacidade espiritual de colher os sinais da salvação de Deus presente na história humana. Vigiar é permanecer firmes na Palavra do Senhor, sem hesitações nem impaciências, sem ceder a ilusões ou a sinais enganadores. A vigilância é uma atitude concreta, feita de atenção e compromisso. É uma maneira de viver, de olhar e enfrentar a realidade.

Todos vivemos igualmente mergulhados nos acontecimentos da história humana, e mesmo assim, a maneira de olhar para esta mesma história muda radicalmente a maneira de a viver e de a entender. A fé, na verdade, é uma chave de leitura dos acontecimentos humanos, capaz de colher e revelar um plano de amor e de salvação que outros, que não receberam este dom, não colhe e do qual não se apercebem (v. 39). As acções podem ser as mesmas, mas o crente e o não crente percebem-nas e vivem-nas de maneira diferente, mesmo de oposta. Jesus explica-o falando da gente dos tempos de Noé, antes do dilúvio: comer, beber, casar-se, como também trabalhar nos campos ou em casa… (v. 38-41), são realidades ordinárias da vida quotidiana, susceptíveis de serem vividas de maneira distraída, à maneira escravos, ou então como contexto de salvação.

“A diferença entre o crente e o não crente não se encontra tanto (ou somente) nos comportamentos exteriores particulares, mas numa atitude interior diferente. O não crente vive como se Deus não existisse. Como se Deus não devesse chegar na sua vida de maneira definitiva. Vive como ignorante, néscio… O crente, esse vigia, sabe que o Senhor não tarda. Não vive os seus dias distraído, venha o que vier. Não aceita a mediocridade da alienação de cada dia… O crente não foge ao presente – antes compromete-se com os outros – mas não se deixa fazer prisioneiro das coisas” (Orazio Petrosillo).

São Paulo usa uma linguagem drástica para descrever os dois modos opostos de viver: obras das trevas ou armas da luz; vida de prazeres e rixas, ou vida que imita o Senhor Jesus (12-14). O cristão precisa de escolher, sem hesitar, porque o tempo é um dom precioso para a salvação (v. 11). Foi com este texto que amadureceu pouco a pouco a conversão do jovem Agostinho. E descobriu a verdadeira vida!

Desde o começo do tempo de Advento, aparece o tema forte da paz e do desarmamento (I leitura). O pequeno reino de Judá estava ameaçado e envolvido numa guerra temerária contra a Assíria. O rei está aterrorizado e procura alianças militares. Só o profeta é capaz de “olhar mais além, longe”, convida à confiança em Deus , único arbitro entre os povos, e lança um tremendo oráculo de paz, nada menos que a transformação das armas em instrumentos de produção, trabalho e desenvolvimento: despedaçar as espadas para com elas fazer arados, transformar as lanças em foices (v. 4). Não mais armas de morte, não mais a arte da guerra! A utopia via tornar-se em realidade, diz o profeta, se todos “caminharmos na luz do Senhor” (v. 5). Nós, cristãos, temos aqui mais um motivo para uma opção única, definitiva, total em favor da paz e do desarmamento. A redução-eliminação das armas, antes ainda de ser uma decisão política, é um imperativo que nasce da fé em Cristo. Em nome desta fé, devemos protestar e denunciar os governos pelos incrementos nas despesas militares e na construção de novas armas de morte.

Isaías é também o profeta da universalidade da salvação de Deus, que é oferecida a todos os povos (v.2). Nós, cristãos, que já acreditamos em Cristo, sabemos que o Salvador já veio, que vem e que virá, enquanto que os não cristãos – que são a maior parte da humanidade (cerca de dois terços) – esperam ainda o primeiro anúncio de Cristo Salvador. Por isso, o Advento é um tempo litúrgico propício a reavivar nos cristãos a consciência da responsabilidade missionária. Isso mesmo recomendava já o Papa Pio XII, há 50 anos, quando convidava ao compromisso missionário e à oração, especialmente no Advento, que é o tempo de espera da humanidade.