Se não estamos mortos, estamos vivos. Se estamos vivos partilhamos o mesmo presente. Se partilhamos o mesmo presente, todos temos futuro. E sonhos. O que nos distingue é a lonjura da nossa história. Ponto.

Maria Alexandra d’Araújo
Fev 11, 2025
Cortesia de:
https://claustro.carmelitas.pt
Caro leitor, escrevo este texto na esperança de partilhar a mensagem de que vale a pena abraçar o desafio de caminhar na vida (mão na mão) no momento presente, porque ao passado não se pode ir e ao futuro não se chega. Ao longo da idade e todas as idades. Juntos.
Vejamos que o envelhecimento pode ser um período de grande realização pessoal e espiritual, George Vaillant (2003), ao estudar o desenvolvimento ao longo da vida, destacou a esperança como um dos pilares da resiliência emocional na velhice, permitindo às pessoas enfrentar desafios com otimismo e perseverança.
Mas, manter a esperança exige práticas concretas que sustentem uma visão de futuro. É aqui que o lazer sério, tal como conceptualizado por Robert Stebbins, se revela uma ferramenta fundamental. Este tipo de lazer, caracterizado pelo compromisso, desafio e sentido de identidade, permite que os indivíduos permaneçam ativos e envolvidos, promovendo um sentido de continuidade e realização. O lazer sério estrutura o tempo livre de forma intencional, possibilitando o crescimento pessoal e a construção de uma identidade resiliente.
Um aspeto crucial da esperança é a perceção de que a vida continua a ter valor e impacto, ao longo da idade. Conor Kelly (2020) argumenta que a utilização do tempo livre para o bem comum fortalece não apenas o indivíduo, mas também a comunidade. Neste sentido, a participação em atividades significativas (seja no voluntariado, na arte, compromissos na Igreja, ou outros) se alinha com a visão cristã do tempo como um dom que deve ser orientado para a edificação do outro. Dessa forma, o lazer sério torna-se uma forma concreta de transformar o tempo livre num espaço de crescimento e serviço.
Nas idades tardias, o envolvimento em atividades de lazer sério representa a oportunidade de redefinir o papel social, contrariando estereótipos de inutilidade e desinteresse. Projetos que envolvem a aprendizagem contínua, como universidades seniores, ou práticas culturais e espirituais, como o canto coral ou a escrita reflexiva, grupos de convívio e reflexão, estudo de temáticas de interesse para o próprio, entre outros, exemplificam o modo como o lazer sério estrutura a vida, fornecendo desafios intelectuais e laços comunitários.
A esperança quando cultivada, deixa de ser uma expectativa vaga e transforma-se numa força vital que impulsiona o quotidiano rumo a Deus.
A articulação entre esperança e lazer sério não só reforça a resiliência individual, mas também oferece um modelo de Desenvolvimento Humano Integral ao longo da idade. Encarar a velhice como um tempo de novas possibilidades implica reconhecer que a esperança não se dissipa com os anos; pelo contrário, pode ser continuamente nutrida por meio de atividades que desafiam, inspiram e nos ligam.
Ao utilizar bem o tempo livre, cultivamos a esperança, e ao mesmo tempo, reafirmamos a dignidade do envelhecimento como uma fase plena de significado e contributo para a sociedade.
Referências
Kelly, C. M. (2020). The Fullness of Free Time: A Theological Account of Leisure and Recreation in the Moral Life. Georgetown University Press.
Stebbins, R. A. (2007). Serious Leisure: A Perspective for Our Time. Transaction Publishers.
Vaillant, G. E. (2003). Aging Well: Surprising Guideposts to a Happier Life from the Landmark Harvard Study of Adult Development. Little, Brown.