“Do ponto de vista material, não há razão para ser otimistas, mas há razão para enfrentar a crise com valores, avançando na qualidade humana, e nisso acredito que os jovens farão emergir o melhor de si”.

O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Reflexión y Liberación, 18-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

José Antonio Pagola
25 Outubro 2025
Cortesia de
http://www.ihu.unisinos.br

No futuro, haverá uma Igreja menor, mais vulnerável, com menos poder mundano, mas mais evangélica, que tentará aprender a viver em minoria e começará a considerar decisões inovadoras que nem ousamos imaginar hoje.

A Igreja do futuro não poderá mais se sustentar apenas com a contribuição dos padres. Não só haverá escassez de padres, como os seminários serão fechados. Deus está nos conduzindo para uma Igreja não clerical. Será um grande passo em direção a uma Igreja mais evangélica. Mas, a partir de agora, devemos nos empenhar a formar esses leigos e leigas, que serão o setor decisivo para o futuro da Igreja entre nós.

O maior potencial para promover a renovação da Igreja no futuro reside nos fiéis leigos e leigas de nossas paróquias. Por meio dos Grupos de Jesus, busco contribuir para o amadurecimento humilde de leigos, homens e mulheres, que podem ser agentes de renovação evangélica, introduzindo na Igreja o que o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, chama de “um dinamismo evangelizador que age por atração” (n. 131).

A primeira coisa é construir novos alicerces que tornem possível a esperança. Devemos aprender a desapegar-nos daquilo que não evangeliza mais ou não abre mais caminhos para o Reino de Deus, para estarmos mais atentos ao que está emergindo, àquilo que hoje abre mais facilmente os corações à Boa Nova.

Ao mesmo tempo, devemos fomentar a criatividade para experimentar novas formas e linguagens de evangelização, novas propostas de diálogo com pessoas distantes, novos espaços de responsabilidade da mulher e celebrações a partir de uma sensibilidade mais evangélica.

Acredito que devemos dedicar mais tempo, oração, escuta do Evangelho e energias para a descoberta de novos chamados e carismas para comunicar a hoje experiência de Jesus. A Igreja deve concentrar-se com verdade e mais fidelidade na pessoa e no projeto de Jesus, que deseja um mundo mais humano, mais saudável, mais digno e mais feliz para todos, começando pelos últimos.

Que as pessoas vejam que Ele se importa com os seus sentimentos e trabalha por uma vida mais feliz e alegre. Ser cristão significa seguir Jesus, e nós nos esquecemos disso. A religião tem um perigo: pode tornar-se um tranquilizante. Não podemos servir a Deus e ao dinheiro, porque Ele não quer que ninguém passe fome, mas sim que todos tenham uma vida digna.

Do ponto de vista material, não há razão para ser otimistas, mas há razão para enfrentar a crise com valores, avançando na qualidade humana, e nisso acredito que os jovens farão emergir o melhor de si.

Nas unções, Jesus inicia um processo de cura social e luta contra a hipocrisia e o culto desprovido de amor, tendo como horizonte o perdão, porque Deus nos entende e nos compreende sempre. Por isso, Ele nos disse “não tenham medo”, porque quer que vivamos com confiança e sejamos capazes de acolher os outros com ternura, outro valor que também se perdeu e que devemos recuperar.