25° Domingo do Tempo Comum (ciclo C)
Lucas 16,1-13

Em nome de Deus, Amós se mostra implacável com uma sociedade corrompida, que se enriqueceu nas costas dos pobres. O salmista celebra um Deus que se distingue por intervir em favor dos fracos. Também o Deus de Jesus se fez amigo e servidor dos fracos e oprimidos. Daí a pergunta: quem é o teu senhor? Para onde vão os gritos dos que não têm voz, senão para Deus? Como negar a imensa injustiça que domina toda a terra e todas as nações… Não! Não podemos servir a Deus e ao dinheiro nem fazer do nosso interesse pessoal o objetivo de nossas vidas.
Referências bíblicas
- 1ª leitura: “Aumentar pesos e adulterar balanças, dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias.” (Amós 8,4-7).
- Salmo: Sl. 112(113) – R/ Louvai o Senhor, que eleva os pobres!
- 2 leitura: Paulo recomenda “que se façam preces por todos os homens”, pois Deus quer “que todos sejam salvos” (1Timóteo 2,1-8).
- Evangelho: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lucas 16,1-13 ou 10-13).
Deus escuta o grito dos pobres
Marcel Domergue
O dinheiro injusto
Por que o dinheiro é qualificado como injusto? Quanto ao dos exploradores da primeira leitura, está claro, não tem problema. Mas notemos bem os dois níveis: primeiro, o dinheiro é adquirido por fraude; em seguida, serve para “comprar o infeliz”. No princípio, toma-se posse de um bem que não é seu e, num segundo momento, usa-se este bem para comprar aquele de quem o bem fora tirado, a fim de sujeitá-lo. É um processo extremamente moderno. Usar o dinheiro para sujeitar alguém é o contrário de utilizá-lo para fazer amigos, ou seja, para estabelecer uma comunhão (3ª leitura). Voltemos à pergunta inicial: será que o dinheiro é tido como injusto «porque na origem de quase todas as fortunas há alguma desonestidade» (cf. nota da Bíblia de Jerusalém)? Talvez, mas creio que é preciso ir mais longe. O dinheiro é iníquo em si mesmo, porque aparenta prometer o que não pode dar; o dinheiro mente, é enganoso. O administrador é desonesto porque suas contas não dizem a verdade: e a mesma coisa acontece com o dinheiro. Encontramos aí, portanto, o tema da idolatria e é a justo título que as nossas bíblias, nesta passagem, escrevem Dinheiro com D maiúsculo. O dinheiro torna-se ídolo quando buscado por si mesmo, aliás, como instrumento de poder («sereis como deuses») e em detrimento das pessoas. É o que na encíclica «Laborem exercens» S. João Paulo II chama de «economismo».
«E eu vos digo»
Expressão que faz lembrar o Sermão da Montanha. Jesus visivelmente vai dizer algo diferente do que diz o senhor da parábola, posto que este, tomado também pelo sistema do dinheiro, admira-se com a astúcia de seu administrador. O discurso de Jesus, logo em seguida, não é nenhum elogio à desonestidade, mas, ao contrário, é uma apologia à gestão fiel do dinheiro injusto, qualificado também como bem alheio. Da minha parte, vejo esta gestão fiel como uma mudança na destinação dos bens, conforme já disse: em vez de fazer dele um instrumento de poder de sujeição, devemos usá-lo como instrumento de amizade. A amizade põe as pessoas no mesmo pé de igualdade. E as “moradas eternas” aí referidas são lugar de comunhão, não se pondo a questão de a elas termos acesso se nossa aventura terrestre não for um empreendimento de comunhão. Esclarecendo, estas «moradas» são somente a situação em que vivemos dia-a-dia. Por que chamar de «alheios» os bens que devem ser administrados? As notas de nossas bíblias explicam que a riqueza é alheia porque é “exterior ao homem”, enquanto que os bens espirituais são «nossos» porque “podem pertencer ao homem” (cf. abaixo: nota da Bíblia de Jerusalém). Sim, está claro, mas não me satisfaz. Creio que toda a riqueza da terra é alheia a cada um de nós porque, segundo o ensinamento bíblico constante, ela pertence a todos (ver a parábola dos talentos, em Mateus 25). Então, qual bem que é próprio nosso, que pertence somente a nós?
O bem que nos pertence
Também é chamado de «o bem verdadeiro», em oposição ao dinheiro mentiroso (injusto – v. 11). Ora, no versículo 13, o dinheiro é posto em oposição a Deus. Isto nos faz pensar que o verdadeiro bem, este que pode tornar-se realmente nosso, é o próprio Deus. Daí vem a fórmula «quem vos dará o que é vosso?»: Deus pode ser o bem do homem, mas somente como dom recebido. Assim encontramos uma verdade elementar da nossa relação com Deus: quem quer dominar (ver a 1ª leitura) não pode receber. Somente o vazio pode ser preenchido. Quem quer se apoderar copia a atitude descrita na história de Adão, que quis apoderar-se da condição divina, não crendo que o próprio Deus queria dá-la. Pois é Deus mesmo o bem do homem (Lucas 18,19) porque Ele é a Vida.
Mostrar-se hábil
O administrador da parábola soube usar o dinheiro alheio (o do seu senhor) para fazer amigos. Ao fazer isto, mostrou-se indigno de confiança e inapto para receber o bem verdadeiro (v. 11). Mas a habilidade de que deu prova na desonestidade, enquanto filho deste mundo, copiemo-la na honestidade, enquanto filhos da luz. Suprema habilidade esta que nos abre ao bem verdadeiro. Com frequência, sabemos discernir o que de fato é bom, quando se trata de comprar objetos; saibamos fazê-lo ainda melhor quando se trata do que é fundamental.
A serviço de quem? De Deus ou do Dinheiro?
Raymond Gravel
Na semana passada, através de três parábolas, o evangelista Lucas nos convidou para dar uma atenção especial aos marginalizados, aos excluídos e aos pecadores. Esta semana, através de outra parábola, ele nos convida a escolher entre Deus e o Dinheiro com um D maiúsculo, isto é, Mammon, o deus sírio da riqueza, um ídolo. Lucas qualifica Mammon de desonesto (adikia), isto é, injusto (Lc 16,9), que é o contrário de Deus que é (dikia), isto é, justo. O que isto quer dizer? O dinheiro seria ruim? A fé cristã seria uma fé que recusa a riqueza e que louva a pobreza? Penso que não! A primeira leitura e o evangelho servem para nos esclarecer sobre o dinheiro e sobre o lugar que deve ocupar na vida dos cristãos.
1. Esta parábola do Evangelho de Lucas é difícil, certamente, mas podemos tirar dela duas mensagens:
1) Proprietário ou servo. O administrador da parábola de Lucas, que perde sua administração, age como se fosse o proprietário dos bens que lhe são confiados. O homem rico é Deus que confia seus bens aos discípulos, aos dirigentes da Igreja. Os bens de Deus são confiados para frutificarem e não para serem desperdiçados em proveito dos administradores, que somos nós. Se, como administradores, nós nos arvoramos do papel de proprietários, esquecemos que temos que prestar contas a Deus, que é o verdadeiro proprietário. Por isso, a primeira sentença (Lc 16,10-12), onde há uma equivalência entre as pequenas coisas, o Dinheiro injusto e os bens alheios: expressões que designam aqui os bens desse mundo, das quais o homem não é o proprietário, mas o administrador e o responsável, diz bem que se ele se revela digno de confiança, em sua missão terrestre provisória, será considerado digno de administrar as grandes coisas, o verdadeiro bem, seu próprio bem. Com outras palavras, a administração terrena das pequenas coisas que nos são confiadas, nos prepara, não somente para administrar coisas mais importantes, mas para nos tornarmos coproprietários com Deus: o bem dos outros torna-se o nosso próprio bem.
O mesmo acontece com a Igreja. Nós somos os administradores do Reino e não seus proprietários. O exegeta francês Jean Debruynne escreve: “A riqueza de Deus não é como a riqueza dos homens; ela não é uma propriedade privada… Deus não pode ser roubado, Deus só sabe amar. Todos têm o direito a Deus, mesmo aqueles de outras religiões que nós consideramos muitas vezes como administradores injustos”. Eu gostaria de acrescentar: quem somos nós, como Igreja, para decidir dessa maneira?
2) Servir a Deus ou a Mammon (Dinheiro). Quando servimos Mammon, só podemos ser injustos, desonestos. A habilidade com que o administrador da parábola serve Mammon, não poderá ser utilizada para servir a Deus? O Senhor da parábola elogia seu administrador desonesto, não por sua desonestidade, mas por sua habilidade: “E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz” (Lc 16,8). De sorte que o evangelho nos convida a nos servir de Mammon para servir a Deus: “E eu lhes declaro: ‘Usem o dinheiro injusto para fazer amigos, e assim, quando o dinheiro faltar, os amigos receberão vocês nas moradas eternas” (Lc 16,9). A segunda sentença da parábola assevera: “Nenhum empregado pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mammon)” (Lc 16,13).
Como, na Igreja, podemos nos servir de Mammon para servir a Deus? Partilhando, amando e construindo um mundo de justiça, de igualdade, de paz, devolvendo a dignidade àqueles e àquelas que a perderam e estando a serviço do Reino de Deus. Jean Debruynne prossegue em sua reflexão: “Hoje, a publicidade invade os jornais, as rádios e as telas de televisão para conjugar dois verbos: primeiro o verbo ter: ter dinheiro, ter relações, ter poder… e, depois, o verbo aparecer: aparecer na televisão, aparecer o melhor, o mais forte, o mais bonito… A fé tem apenas um verbo para conjugar: o verbo ser. Jesus nos diz, em primeiro lugar, que a fé não é como o dinheiro. Ela não é alguma coisa que se tem ou não se tem, que se ganha ou se perde. Crer é ser, é existir, é viver. Jesus nos disse, na sequência, que o que nós temos, o que possuímos, mesmo quando é pouco, deve servir para ser”.
2. Devemos denunciar os ricos que esmagam os pequenos, exploram os pobres e os dirigentes que se acham os donos dos bens que lhes são confiados. O profeta Amós, na primeira leitura de hoje, não tem papas na língua. No século VIII a.C., sob o reinado do rei Jeroboão II, o comércio está em franca expansão e o luxo se estende, agora, na capital, Samaria. O profeta Amós denuncia as injustiças cometidas pelos grandes proprietários de terras contra os trabalhadores. Aqueles os exploram e os esmagam até torná-los escravos: “Nós podemos comprar os fracos por dinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo” (Am 8,6). E pior ainda: esses novos ricos estão com pressa que o sábado termine para acelerar e continuar suas maldades: “Quando vai passar a festa da lua nova, para podermos pôr à venda o nosso trigo? Quando vai passar o sábado, para abrirmos o armazém, para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar a balança?” (Am 8,5).
Para terminar, gostaria de propor esta bela reflexão do século IV que nos vem de São Basílio de Cesareia: “O que faço de errado, diz o avarento, guardando o que é meu? Dize-me, de que modo é teu? Donde tiraste, tomando-o para teu sustento? És como alguém que, indo ao teatro, se apoderasse do espetáculo e quisesse excluir os que entrassem depois, pretendendo ser só teu aquilo que é comum a todos os que se apresentam, conforme lhes parece bem. Assim são os ricos: apoderando-se primeiro do que é de todos, tudo tomam para si por uma falsa ideia. Se cada um tirasse para si o que lhe é necessário e entregasse aos indigentes o que sobra, ninguém seria rico, ninguém seria pobre. Não saíste nu do útero e não retornarás nu para a terra? Os bens que possuis, de onde vêm? Se dizes que provêm do acaso, és ímpio, não reconhecendo o Criador e não dando graças ao doador. Se, ao invés, admites que são de Deus, dize-me por que os recebeste. É talvez injusto Deus, que nos distribui os meios de subsistência de modo desigual? Por que tu és rico e aquele é pobre? Certamente para que tu pudesses receber a recompensa da bondade da fiel administração e aquele pudesse conseguir o magnífico prêmio da paciência”.
Perdoar para ser perdoado
Enzo Bianchi
Há parábolas de Jesus bem construídas e com uma mensagem evidente; outras, por sua vez, mais contorcidas, menos lineares, cuja mensagem deve ser buscada com cuidado e inteligência.
Neste capítulo 16 do Evangelho segundo Lucas, encontramo-nos diante de duas parábolas sobre as atitudes em relação ao dinheiro e à riqueza, parábolas proclamadas uma neste domingo, e a outra, no próximo (Lc 16,19-31).
Certamente, a parábola de hoje, a do ecônomo injusto, desonesto e que não age com retidão, pode parecer escandalosa; para o leitor superficial pode até ser imoral, mas é preciso prestar atenção e discernir o vértice teológico presente no relato: então o entenderemos em fidelidade à intenção de Jesus.
Tentemos, portanto, com humildade, trabalhar, exercitar a inteligência para chegar a compreender também este trecho de modo evangélico, captando nele a “boa notícia”.
Um homem rico tem um ecônomo que administra seus negócios, mas, de repente, este último se revela um dissipador de seus bens. Então, o patrão o chama e lhe pergunta: “Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens”. É algo que ocorre muito frequentemente, porque a tentação da injustiça, de pensar em si mesmo e de não ser responsável por uma propriedade alheia é fácil e recorrente.
Mas como reagir quando se é descoberto? Aqui, o ecônomo, diante da ameaça do patrão e da perspectiva de perder o trabalho, põe-se a raciocinar, a pensar no seu futuro. Ele medita consigo mesmo: “Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha”.
E eis que, no seu diálogo interior, ele chega a uma solução: tornar-se amigo de alguns devedores de seu patrão, para poder contar com eles. Mas ele deve fazer tudo muito rápido e, por isso, convoca os devedores imediatamente.
Ao primeiro, ele pergunta: “Quanto deves ao meu patrão?”. Resposta: “Cem barris de óleo”. E ele replica, cortando pela metadade a dívida: “Pega a tua conta, senta-te, depressa, e escreve cinquenta!”. Para outro, que deve 100 sacos de trigo, o ecônomo lhe perdoa 20.
Eis uma verdadeira fraude, um perdão das dívidas sem a autorização do patrão, uma evidente injustiça! Porém, o padrão, tomando conhecimento do engano realizado em seu detrimento, congratula-se com o ecônomo desonesto, que, segundo Jesus, é filho deste mundo das trevas, portanto, um filho de Satanás, aquele que combate os filhos da luz que vivem na justiça.
Então, por que o elogio, as congratulações? Pela ação injusta? Não: pela capacidade de fazer amigos, dando e compartilhando exatamente aquela riqueza injusta. Assim, aquele ecônomo injusto não dissipa mais os bens dos quais é administrador, mas os honra, compartilhando-os com quem não tem nada.
Eis onde está a boa notícia, o evangelho: o que é urgente, a ação boa, é distribuir o dinheiro da injustiça aos pobres, e não o conservar zelosamente para si mesmo. Precisamente essas palavras de Jesus querem ser uma boa notícia para os ricos, porque agora sabem como devem administrar os bens que não são deles: distribuindo-os a todos.
A natureza exemplar desse ecônomo injusto, portanto, não deve ser identificada no seu agir desonesto, mas sim na sua capacidade de discernimento da situação em que se encontra, de adesão à sua realidade marcada por muitos limites e de agir em conformidade com inteligência.
Atenção, nesse relato e no comentário posterior de Jesus, aparece por nada menos do que cinco vezes o termo injustiça/injusto (adikía/ádikos) para definir o ecônomo e a riqueza, Mamon. A injustiça, portanto, é denunciada e condenada: não há outra via de justiça senão dar a riqueza, compartilhando-a com os pobres, aqueles que são bem-aventurados e aos quais é prometido o reino de Deus (cf. Lc 6,20).
O dinheiro continua sendo “Mamon (de ‘aman, que significa “crer”!) de injustiça”, definição presente também nos escritos de Qumran, que proclama sua iniquidade radical. Nós sabemos bem disto: o dinheiro captura a fé, encanta, seduz, dá uma falsa segurança, rouba o coração, engana e se torna o tesouro precioso, o ídolo no qual se confia (cf. Lc 12,34; 1Tm 6,17). É verdade que o dinheiro é apenas um instrumento, mas, como pede para ter fé-confiança nele, é preciso vigiar para não ser dominado por ele; pelo contrário, é preciso doá-lo, distribuí-lo, compartilhá-lo. De fato, se for acumulado e mantido para si, acaba sendo alienante: não é mais possuído, mas é ele quem possui quem o tem nas próprias mãos!
Precisamente por isso, no Evangelho segundo Lucas, há uma grande revelação feita pelo próprio demônio a Jesus no momento das tentações no deserto: “Toda essa riqueza foi dada a mim” – dada por Deus, poderíamos dizer – “e eu a dou a quem eu quiser” (cf. Lc 4,6).
Sim, quem acumula riquezas é um administrador de Satanás, quer o saiba ou não; por isso, na nossa parábola, o homem rico que dá muitos bens à gestão do ecônomo pode ser uma figura do demônio. A única maneira para fugir da escravidão satânica é distribuir, doar o dinheiro, os bens, perdoar as dívidas: o dinheiro acumulado é sempre sujo; para limpá-lo, basta compartilhá-lo!
O cristão, portanto, sabe que existe um Mamon com letra maiúscula, um ídolo forte e sedutor que pode se tornar um Kýrios, um Senhor, tornando servo e escravo quem é seu administrador. O discípulo de Jesus – como o próprio Jesus recorda claramente – não pode servir a dois senhores, mas é posto diante de uma escolha:
– ou amar e servir um, ou amar e servir o outro;
– ou repudiar um, ou repudiar o outro,
porque os dois patrões são antitéticos, são concorrentes ao exigir fé-confiança.
Como discípulos de Jesus, podemos olhar para o horizonte do Reino, onde nos aguarda a grande comunhão dos amigos do Senhor na vida eterna. Quem nos acolherá com amizade entre si são precisamente os pobres, aqueles dos quais nos tornamos amigos aqui na terra, dia após dia, com a dança do dom e o exercício da partilha. Não estaremos sozinhos, mas seremos uma comunhão de amigos, se, na amizade, tivermos nos exercitado aqui e agora, doando e aceitando os dons.
Mas, nessa parábola e nas palavras com as quais Jesus a comenta, há apenas uma exemplaridade ligada à partilha dos bens com os pobres? Não há também, talvez, um convite dirigido por Jesus aos discípulos, aos “filhos da luz”, para que sejam capazes de exercitar inteligência, criatividade e audácia, como infelizmente os “filhos deste mundo” sabem fazer?
De fato, há quase um lamento nessa constatação de Jesus a respeito de seus seguidores: eles não sabem ser phrónimoi, capazes de inteligência, de discernimento e de vigilância!
Especialmente hoje, em um mundo indiferente ao anúncio de Deus, por que os cristãos não sabem fazer com que se compreenda que o Evangelho é uma boa notícia? Por que o discurso cristão continua sendo tão confuso e ofuscado por tantas palavras e tantos revestimentos humanos e mundanos? Por que não sabemos dizer que o cristianismo é o encontro com uma pessoa, Jesus Cristo, o Senhor vivo, sem afogar o anúncio em moralismos culpabilizantes que os homens e as mulheres de hoje não conseguem acolher como salvação? Por que não sabemos opor à indiferença dominante na sociedade a “diferença cristã” manifestada em vidas humanas marcadas pela bondade, beleza e bem-aventurança?
Sim, ainda hoje Jesus continua se lamentando de como os filhos deste mundo são mais inteligentes e estão mais despertos do que os filhos da luz!