Sínodo 2024
Meditações de Timothy Radcliffe
(paráfrase da 1ª e 2ª Meditação)

“Como ser uma Igreja sinodal missionária”
Meditação nº 1
Ressurreição: busca na escuridão
João 20,1-18
No ano passado, durante o retiro, meditamos sobre como nos escutarmos mutuamente. Como podemos enfrentar nossas diferenças com esperança, abrindo nossos corações e mentes uns aos outros? Algumas barreiras caíram e espero que tenhamos começado a ver aqueles com quem não concordamos não como opositores, mas como companheiros discípulos, companheiros na busca.
Este ano, temos um novo foco: “Como ser uma Igreja sinodal missionária”. Mas o fundamento de tudo o que faremos é o mesmo: escuta paciente, imaginativa, inteligente, com o coração aberto.
Este ano, refletiremos sobre a “única missão de anunciar o Senhor ressuscitado e o seu Evangelho” (IL, “Introdução”) a um mundo que “habita nas trevas e na sombra da morte” (Lc 1,79). Para guiar nossas meditações, tomaremos quatro cenas da ressurreição do Evangelho de São João: “A busca na escuridão”, “A casa fechada”, “O estrangeiro na praia” e “O pequeno almoço com o Senhor”. Cada uma delas lança luz sobre como ser uma Igreja sinodal missionária em nosso mundo crucificado.
Uma busca na escuridão, cheia de perguntas
A primeira cena começa à noite: “No primeiro dia da semana, bem cedo, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo” (Jo 20,1). É onde também estamos hoje. Nosso mundo está ainda mais obscurecido pela violência do que há um ano. Ela vem procurar o corpo de seu amado Mestre. Nós também estamos reunidos neste Sínodo para buscar o Senhor. No Ocidente, Deus parece ter em grande parte desaparecido. Enfrentamos não tanto o ateísmo, mas uma indiferença generalizada. O ceticismo envenena até o coração de muitos crentes. Mas todos os cristãos, em todos os lugares, são buscadores do Senhor, como Maria Madalena antes do amanhecer.
Também podemos nos sentir na escuridão. Desde a última Assembleia, muitas pessoas, incluindo participantes deste Sínodo, expressaram suas dúvidas sobre a possibilidade de alcançar algo. Como Maria Madalena, alguns dizem: “Por que nos tiraram a esperança? Esperávamos tanto do Sínodo, mas talvez haja apenas mais palavras”. Mas, apesar de ser noite, o Senhor já está presente no jardim com Maria de Magdala e conosco.
No jardim, encontramos três buscadores: Maria Madalena, o discípulo amado e Simão Pedro. Cada um busca o Senhor à sua maneira; cada um tem seu próprio modo de amar e cada um seu próprio vazio. Cada um desses buscadores tem seu papel no alvorecer da esperança. Não há rivalidade. A interdependência deles encarna o coração da sinodalidade. Todos nós podemos nos identificar com pelo menos um deles. Qual é o seu?
Tomáš Halík argumentou que o futuro da Igreja depende de sua capacidade de alcançar os buscadores de nossa sociedade. Estes são frequentemente os “ninguem”. Refiro-me àqueles que afirmam não ter nenhuma filiação religiosa. Muitas vezes, estão em busca do sentido de suas vidas. Halík escreve que os cristãos devem, portanto, estar dispostos a ser “buscadores com os que buscam e questionadores com os que questionam”.
Todos os relatos da ressurreição estão cheios de perguntas. Por duas vezes, Maria Madalena é perguntada por que chora. Ela pergunta onde colocaram o corpo. Todos se perguntam por que o túmulo está vazio. No relato de Marcos, as mulheres se perguntam: “Quem removerá para nós a pedra?” (16,3). O relato de Lucas sobre a ressurreição está cheio de perguntas: “Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo?”. Jesus pergunta aos discípulos em fuga para Emaús: “Sobre o que estais conversando?”. Depois a todos os discípulos: “Por que estais perturbados? E por que surgem dúvidas em vossos corações?” (24,38). A ressurreição irrompe em nossas vidas não como uma simples constatação de fatos, mas como perguntas penetrantes.
As perguntas profundas não buscam informações. Elas nos convidam a estar vivos de uma nova maneira e a falar uma nova língua. O poeta Rainer Maria Rilke escrevia: “Não busque as respostas que não podem ser dadas agora, porque você não seria capaz de vivê-las. E o ponto é viver tudo. Viva agora as perguntas. Talvez então, um dia distante no futuro, gradualmente, sem perceber, você viverá a resposta”.
A ressurreição não é a vida de Jesus recomeçando após uma breve interrupção, mas um novo modo de estar vivo em que a morte foi vencida. E assim, irrompe através dos Evangelhos em nossas vidas, primeiro como perguntas urgentes que não nos permitem continuar vivendo da mesma maneira. Chegamos a este Sínodo com muitas perguntas, por exemplo, sobre o papel das mulheres na Igreja. Estas são perguntas importantes. Mas não podem ser vistas simplesmente como perguntas sobre a possibilidade ou não de conceder algo. Isso significaria permanecer o mesmo tipo de Igreja. As perguntas que enfrentamos devem ser mais parecidas com as dos Evangelhos, que nos convidam a viver juntos mais profundamente a vida do Ressuscitado.
Então, devemos ousar trazer para este Sínodo as perguntas mais profundas de nossos corações, perguntas desconcertantes que nos convidam a uma vida nova. Como aqueles três buscadores no jardim, devemos responder às perguntas dos outros se quisermos encontrar uma maneira renovada de ser Igreja. Se não temos perguntas, ou se são superficiais, nossa fé está morta.
Se prestarmos atenção às perguntas uns dos outros com respeito e sem medo, encontraremos uma nova maneira de viver no Espírito. Nós somos Maria Madalena, o discípulo amado e Simão Pedro, e somente juntos encontraremos o Senhor que nos espera.
1. Maria Madalena, atraída por um amor terno: em busca dos corpos feridos
Vamos dar uma olhada em cada um dos buscadores e ver o que eles podem nos ensinar sobre como alcançar os buscadores de nosso tempo. Maria Madalena é atraída por um amor terno. Ela deseja cuidar do corpo de seu amado Senhor. Certamente representa todos aqueles cujas vidas são guiadas pela compaixão pelos feridos do mundo. Madre Teresa, que buscou o corpo de seu Senhor nas ruas de Calcutá. São Damião de Molokai, que deu sua vida aos leprosos do Havaí.
Pense também naqueles milhões de pessoas que não conhecem Cristo e, no entanto, estão cheias de compaixão pelos que sofrem. Como Maria Madalena, procuram os corpos dos feridos. O mundo está cheio de lágrimas. Um dos grupos de estudo convocados pelo Santo Padre intitula-se “Escutando o clamor dos pobres”. Poderia ser intitulado “Escutando o clamor dos que choram”. Maria Madalena é sua protetora.
Então Maria ouve seu nome: “Maria”; “Rabbuni”. É justo que aquela cuja vida é guiada pelo amor compassivo e terno tenha seu vazio preenchido com seu nome. Ela procurou um cadáver, mas encontrou mais do que poderia sonhar, o amor que está vivo para sempre. Nosso Deus sempre nos chama pelo nome. “Mas agora, assim diz o Senhor que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: ‘Não temas, pois eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu'” (Is 43,1).
E assim, nossa missão também é dar nome ao Deus que nos busca na escuridão. E valorizar também o nome e os rostos uns dos outros. Seremos capazes de mediar a presença de Deus somente se estivermos presentes uns aos outros neste Sínodo. Gregory Boyle, SJ, trabalha com jovens membros de gangues em Los Angeles. O segredo de seu ministério é conhecer seus nomes. Não apenas seus nomes oficiais ou apelidos, mas os nomes pelos quais suas mães os chamam quando não estão zangadas. Quando ele chama pelo nome o jovem Lula, todo o seu corpo estremece de alegria ao se sentir conhecido, ao ouvir seu nome pronunciado em voz alta. “Durante todo o caminho na faixa de pedestres, Lula continuou virando-se e olhando para mim, sorrindo”.
Este Sínodo será um momento de graça se nos olharmos com compaixão e vermos as pessoas que, como nós, estão em busca. Não os representantes de partidos da Igreja, aquele cardeal conservador horrível, aquela feminista assustadora! Mas companheiros de busca, feridos mas alegres.
Mas o amor terno de Maria Madalena precisa ser curado. Jesus lhe ordena: “Não me retenhas”. Os estudiosos deram explicações absurdas sobre isso, a mais inverossímil é que as feridas de Jesus ainda doíam! Ele está dizendo que ela não pode ter posse privada dele. Sua presença diante dela não é de sua propriedade. Ela deve libertar seu amor de toda exclusividade! Então estará pronta para proclamar a boa nova aos discípulos: “Eu vi o Senhor”. Este é também o nosso desafio. Não nos apegar ao meu Jesus inglês ou ao meu Jesus dominicano, mas ao Senhor no qual todos somos irmãos e irmãs. Este Sínodo será frutuoso se aprendermos a dizer “nós”. “Meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”.
2. O discípulo amado: o amor que dá visão
Depois há o discípulo que o Senhor amava. Ele também tem seu modo de amar e seu vazio, o apagar da luz de sua vida. Deixa o velho Pedro entrar primeiro, bufando e ofegando, no túmulo escuro, mas vê o espaço vazio e crê. Este é o amor que dá visão. Ubi amor, ibi oculus (Ricardo de São Vítor). Onde há amor, há visão. Ele vê com os olhos do amor e assim vê a vitória do amor. Seu evangelho é o da águia, cujos olhos se acreditava que olhavam diretamente para a luz do sol, sem serem cegados. Sua busca é profundamente teológica.
3. Simão Pedro: o pastor e a busca da misericórdia
Depois há Simão Pedro. Seu vazio é o mais pesado de todos, o peso do fracasso. Ele negou seu amigo. Certamente deseja aquelas palavras curativas que serão finalmente pronunciadas na praia. Portanto, nossa missão pastoral é estar com todos aqueles que estão sobrecarregados pelo fracasso e pelo pecado e compartilhar o perdão que recebemos, nossa descoberta da graça extraordinária daquele que “salvou um desgraçado como eu”. “Uma vez eu estava perdido, mas agora fui achado, estava cego, mas agora vejo”. Nossa missão é nomear Aquele que é misericordioso, de quem também precisamos, como Pedro.
Assim, nesta primeira cena da ressurreição, vemos como o Senhor responde a três formas de busca correspondentes a três vazios de nossa vida: o amor terno que busca a presença, a busca de significado e luz e, finalmente, a do perdão. Cada buscador precisa do outro. Sem Maria, esses buscadores não teriam vindo ao túmulo. É ela quem declara que o Senhor está presente. Sem o discípulo amado, eles não teriam compreendido o vazio do túmulo como ressurreição; sem Pedro, não teriam compreendido que a ressurreição é o triunfo da misericórdia.
Cada um representa um grupo que se sentiu de alguma forma excluído na última Assembleia. Maria Madalena nos lembra também como as mulheres são frequentemente excluídas de posições formais de autoridade na Igreja. Como encontrar o caminho a seguir que a justiça e nossa fé exigem? A busca delas é a nossa. Na última Assembleia, muitos teólogos também se sentiram marginais. Alguns se perguntavam por que se deram ao trabalho de vir. Não podemos chegar a lugar algum sem eles. E o grupo que mais resistiu ao caminho sinodal foram os pastores, os párocos que compartilham sobretudo o papel de Pedro como pastores de misericórdia. Sem eles, a Igreja não pode se tornar verdadeiramente sinodal.
Quando quase todos se sentem excluídos, não deveria haver competição pelo vitimismo! A busca no escuro pelo Senhor precisa de todas essas testemunhas, assim como o Sínodo precisa de todas as formas de amar e buscar o Senhor, assim como precisamos dos buscadores de nosso tempo, mesmo que não compartilhem nossa fé.
Cada um desses testemunhos é tocado por um amor que é infinito. Maria Madalena é tocada por uma ternura infinita; os discípulos amados são movidos pela busca de um significado sem fim; Pedro, pela necessidade da misericórdia que não tem limites, perdoando não sete vezes, mas setenta vezes sete. Se nos abrirmos ao desejo infinito do outro, lançaremos o barco da missão. Somente juntos poderemos, segundo as palavras de Efésios, “compreender, com todos os santos, qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (3,18-19).
Meditação nº 2
A casa fechada à chave
João 20,19-29
O Senhor nos chama para fora de nossos quartos trancados!
Esta manhã, vimos os discípulos correndo no escuro, em busca do Senhor. Agora é noite e estamos novamente no escuro, e eles estão imóveis no quarto trancado.
Na túmulo do quarto trancado: venha para fora e viva!
A manhã estava inicialmente escura porque eles ainda não haviam encontrado o Senhor ressuscitado. A noite está escura porque ainda não estão cheios do Espírito Santo, o sopro vivo do Senhor ressuscitado. Jesus saiu do túmulo vazio. Eles ainda estão na tumba do quarto trancado. Gênesis diz que, no princípio, “o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se um ser vivente” (2,7). Agora Jesus lhes dá o sopro da vida eterna: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os retiverdes, eles lhes serão retidos”. Eles compartilham sua vida ressuscitada e, portanto, estão prontos para serem enviados a pregar.
Tornar-nos-emos pregadores da ressurreição somente se estivermos vivos em Deus. Como Lázaro, ouvimos a voz do Senhor que nos chama para fora de nossos quartos trancados: “Venha para fora e viva”.
A primeira tarefa da liderança é conduzir o rebanho para fora dos pequenos apriscos ao ar fresco do Espírito Santo. A liderança abre as portas trancadas de quartos sufocantes. Os discípulos estão aprisionados pelo medo. Pensemos, então, nos medos que podem nos impedir de nos tornarmos vivos em Deus e, portanto, pregadores do evangelho da vida em abundância.
Nossos medos: o medo de ser ferido
Todos conhecemos o medo de ser ferido. Alguns de nós vêm a esta Assembleia nervosos porque não encontraremos reconhecimento e aceitação. Nossas preciosas esperanças para a Igreja podem ser desprezadas. Podemos nos sentir invisíveis. Ousamos falar, correndo o risco de sermos rejeitados? Ousamos correr o risco de nos machucarmos, porque o Senhor ressuscitado está ferido. Ele lhes mostra as mãos e o lado. Se você ama, será ferido e até morto. Se não ama, já está morto. Tornar-se vivo em Deus significa não ter medo das feridas.
Nosso convento em Jerusalém está situado perto do Portão de Damasco. Este é um lugar tenso onde a Cidade Velha se abre para o bairro árabe. Um grupo de jovens judeus estava lá, com os olhos vendados, oferecendo “abraços grátis” a quem quisesse. Amor gratuito em face do ódio gratuito. Eles correram o risco de receber uma facada em vez de um abraço. Alan Paton era um romancista sul-africano que, corajosamente, fez campanha contra o apartheid. Um de seus personagens diz: “Quando eu chegar ao céu, o que certamente pretendo fazer, o Grande Juiz me dirá: ‘Onde estão suas feridas?’ E se eu disser que não tenho nenhuma, ele dirá: ‘Não havia nada pelo que lutar?'”.
A paz nos liberta!
Podemos aceitar o risco de ser feridos porque o Senhor nos deu sua paz. O filme “Dos homens e dos deuses” conta a história dos monges trapistas que se recusaram a fugir da Argélia quando a violência terrorista irrompeu nos anos 90. Irmão Luc, o antigo médico da comunidade, diz: “Não tenho medo da morte, sou um homem livre” (Je ne crains pas la mort, je suis un homme libre). Durante a Missa, o sacerdote beijou o cálice do sangue derramado de Cristo antes de oferecer o abraço da paz.
O primeiro ato criativo foi “Haja luz”. A Nova Criação começa com “Haja paz”. Mahatma Gandhi tinha uma imagem de Jesus em seu quarto com a citação de Efésios: “Ele é a nossa paz” (2,14). Jesus é o sábado de Deus. Somos batizados na paz de Cristo que nada pode destruir. Não precisamos temer nada. A paz de Deus não significa que sentimos paz. Não é necessária uma sensação subjetiva de paz; se estamos em Cristo, podemos estar em paz mesmo quando não sentimos paz.
Talvez para muitos de nós o desafio mais profundo seja estarmos em paz conosco mesmos. Ousamos olhar para nossos corações atormentados e divididos, as partes de nós que não gostamos? A tentação é projetar nos outros o que tememos e não gostamos em nós mesmos. Qualquer parte de nós que nos recusamos a aceitar será nossa inimiga. Nosso amor feroz pela Igreja pode também, paradoxalmente, nos tornar de mente fechada: o medo de que ela seja prejudicada por reformas destrutivas que minam as tradições que amamos. Ou o medo de que a Igreja não se torne a casa de portas abertas que desejamos. É profundamente triste ver que frequentemente a Igreja é ferida por aqueles que a amam, mas de forma diferente! Às vezes esquecemos a amplitude do catolicismo, com seus “tanto/como”. O amor perfeito expulsa o medo. Expulsemos o medo daqueles cujas visões da Igreja são diferentes. Nosso próprio amor pela Igreja, de maneiras completamente diferentes, pode nos levar a nos trancar em nosso pequeno mundo eclesial, olhando para nosso próprio umbigo, observando os outros, prontos para identificar seus desvios e denunciá-los. Naturalmente, há mudanças que alguns de nós desejam, mas não deixemos que isso nos tranque em nosso pequeno mundo eclesial.
Nossa libertação desses quartos não precisa apenas de coragem, mas do perdão curador de Deus. O Senhor ressuscitado diz: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados”. O pecado nos tranca nas prisões do narcisismo e da partidarismo. Somos chamados a nos aventurar no desconhecido, a abandonar o que é familiar e seguro e a embarcar em uma jornada de busca. E ainda assim não gostamos de correr riscos. Essa incapacidade de responder ao chamado à vida, essa incapacidade de fé, chama-se pecado.
Respiremos: abrir nossos quartos sufocantes
Este Sínodo não é um lugar para negociar uma mudança estrutural, mas para escolher a vida. O Senhor nos chama para fora dos pequenos lugares em que nos refugiamos e nos quais aprisionamos os outros.
Oremos para que a paz de Cristo dissolva a violência que habita em nossos corações e que crucificou Nosso Senhor. Dorothy Day afirmou que “a grande batalha é contra a violência mais do que contra o ateísmo”. Ela disse: “Os cristãos, quando tentam defender sua fé com armas, com força e com violência, são como aqueles que disseram a Nosso Senhor: ‘Desça da cruz. Se você é o Filho de Deus, salve-se a si mesmo’”.
O Corpo de Cristo é desfigurado por sites venenosos, cheios de acusações cruéis, caricaturas e ódio. Qualquer um que exerça qualquer forma de liderança na Igreja terá experimentado isso. Nosso mundo violento priva tantas pessoas até mesmo do sopro da vida. “Não consigo respirar” foram as últimas palavras de um afro-americano, Eric Garner, repetidas onze vezes e gravadas nos celulares dos transeuntes enquanto era sufocado pela polícia em Staten Island, Nova York, há dez anos. Respiremos o ar, o oxigênio do debate.
Alguns dogmas de nosso tempo são realmente quartos trancados e sufocantes sem oxigênio: relativismo, todo tipo de fundamentalismo, materialismo, nacionalismo, cientificismo, fundamentalismo religioso. Trancam as pessoas em imaginações assustadoras.
Como convidar os homens de nosso tempo a entrar no espaço amplo de nossa fé? Como podemos, por exemplo, tocar sua imaginação com a gloriosa doutrina da Trindade, o ensinamento mais concreto e prático que existe? Para isso, precisamos da ajuda dos teólogos. Mesmo os teólogos às vezes se retiram para os quartos trancados do mundo acadêmico por medo de dialogar com o povo de Deus. A boa teologia abre as portas de quartos sufocantes. Abraça novas formas de falar, novas linguagens. Uma Igreja sinodal em missão ousa ensinar com coragem e humildade.
N.B. Tradução a partir do italiano e títulos meus (MJ)