XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM (B)
João 6, 60-69

Referências bíblicas:
1ª leitura: Josué 24,1-2.15-18
2ª leitura: Ef 5,21-32
Evangelho: Jo 6,60-69
60 Ao ouvirem isso, muitos dos seus discípulos disseram: “Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la?” 61 Sabendo em seu íntimo que os seus discípulos estavam se queixando do que ouviram, Jesus lhes disse: “Isso os escandaliza? 62 Que acontecerá se vocês virem o Filho do homem subir para onde estava antes? 63 O Espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida. 64 Contudo, há alguns de vocês que não crêem”. Pois Jesus sabia desde o princípio quais deles não criam e quem o iria trair. 65 E prosseguiu: “É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai”. 66 Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo.
67 Jesus perguntou aos Doze: “Vocês também não querem ir?” 68 Simão Pedro lhe respondeu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. 69 Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus”.
O discípulo sempre é livre para ir embora
Enzo Bianchi
Chegamos ao fim do sexto capítulo do Evangelho segundo João, e, nestes últimos versículos, é colocado diante de nós todo o choque, o escândalo que as palavras de Jesus causaram não só nas multidões dos judeus, mas também entre os seus discípulos.
Essa crise nas relações entre Jesus e a sua comunidade é testemunhada por todos os quatro Evangelhos no momento de uma palavra decisiva de Pedro que confessava, embora não plenamente, a identidade de Jesus como Messias (cf. Mc 8,29 e par.) e como enviado do Pai como Filho.
Por que essa crise? Porque as palavras de Jesus às vezes eram duras e chocavam também os ouvidos de discípulos que o seguiam com devoção, mas não conseguiam aceitar, considerando-o como uma pretensão, que Jesus tinha “descido do céu” e que na carne de um corpo humano frágil e mortal ele narrava o Deus vivo.
No seu discurso, Jesus tinha dito várias vezes: “Eu sou o pão vivo descido do céu” (Jo 6,51; cf. 6,33.38.41-42.58), mas justamente aqueles que o tinham aclamado como “o grande profeta que vem ao mundo” (Jo 6,14) e que até tinham querido fazê-lo rei (cf. Jo 6,15), diante dessas palavras, sentem-se escandalizados na sua fé.
Profeta, sim. Mas que desceu do céu e é um corpo entregue (verbo paradídomi) até à morte violenta, corpo para comer e sangue para beber (cf. Jo 6,51-56), isso realmente não: são palavras que soam como uma pretensão insuportável, impossíveis de escutar!
Jesus, que conhece essas murmurações dos discípulos contra ele, neste ponto não tem medo de dizer toda a verdade, às custos de causar uma divisão entre os seus e um abandono do seu seguimento. Poderíamos dizer que ele “ataca” os murmuradores: “Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?”. Isto é, “quando vocês estiverem diante da realidade do Filho do homem que, através da elevação na cruz, subirá a Deus, de quem veio (cf. Jo 3,14; 8,28; 12,32); quando se manifestar a minha plena identidade de quem desceu de Deus e que a Deus subiu novamente na sua humanidade assumida como condição carnal, mortal, ‘semelhante à carne do pecado’ (Rm 8,3), então o escândalo será maior!”
Jesus faz esse ataque sofrendo todo o peso da incredulidade, da incompreensão por parte daqueles que, durante anos, estavam envolvidos com ele e eram assíduos à sua palavra. Como é possível esse comportamento deles?
É por isso que ele nada mais faz do que constatar que, na realidade, ninguém pode vir até ele se o Pai não o atrai, se não o concede isso. É preciso esse dom que não é dado arbitrariamente por Deus, mas deve ser buscado, deve ser acolhido como dom que não requer nenhum mérito por parte de quem o recebe. Mas isso também escandaliza as pessoas religiosas, que sempre pretendem que Deus faça dons não só de acordo com os seus desejos, mas também de acordo com aquilo que mereceram e alcançaram.
O que é escandaloso em relação a Jesus é a sua entrega em uma carne frágil e em um corpo mortal a carnes frágeis e corpos mortais, isto é, os humanos. Como é possível que Deus se entregue em um homem, “o filho de José” (Jo 6,42), criatura que pode ser entregue, traída, dada nas mãos dos pecadores, como fará justamente um dos Doze, Judas, um servo do diabo (cf. Jo 6,70)?
Aqui, a fé tropeça no fato de ter que acolher a imagem de um “Deus ao contrário”, de um “enviado divino, um Messias ao contrário”, que é frágil, pobre, fraco e do qual os homens podem fazer aquilo que quiserem… É o escândalo da humanização de Deus, sofrido ao longo dos séculos por muitos cristãos, por muitas Igrejas, pelo próprio Islã e ainda hoje pelos homens religiosos que acusam de não crerem em Deus aqueles que acolhem do Evangelho a mensagem escandalosa de um Deus que real e verdadeiramente se fez homem, carne mortal, em Jesus de Nazaré.
A fé cristã torna-se facilmente docetismo, porque prefere, como todas as religiões, um Deus sempre e somente onipotente, um Deus que não pode se tornar humano.
Por isso, Jesus insiste: “Vós também vos quereis ir embora?”, dirigindo-se àqueles que permaneceram, na realidade, poucos. Jesus não teme, embora sofra, permanecer sozinho, porque tem fé na palavra que o Pai lhe dirigiu, na promessa de Deus que não falhará. Os outros podem ir embora, mas Deus permanece fiel!
Às vezes, eu me pergunto por que, na Igreja, não se tem a coragem de fazer ressoar ainda hoje essas palavras de Jesus, por que sempre se ensina o sucesso, sempre se olha para o número dos fiéis, sempre se fazem esforços visando à grandeza da comunidade cristã e não à qualidade da fé. Somos todos gente de pouca fé!
A crise, por sua vez, que sempre é fracasso, nós a afastamos o máximo possível, a dissimulamos, a calamos, para que não pareça que às vezes perdemos, caímos, fracassamos também nas nossas obras eclesiais e comunitárias mais conformes à vontade do Senhor.
Por outro lado, Jesus usará a imagem da poda da vinha para dizer que há ramos que devem ser podados (cf. Jo 15,2): mas é determinante que a poda seja feita pelo Pai, e não por nós, nem mesmo por aqueles que, na comunidade cristã, presidem ou trabalham nela como operários. Por si só, o Evangelho tem a força de atrair e de deixar cair: basta que ele seja anunciado na sua verdade e com franqueza, sem ser adocicado.
Sim, o Evangelho é a Palavra de vida eterna, como Pedro responde a Jesus, confessando que a fé da Igreja é fé no “Santo de Deus”, isto é, fé de que, em Jesus, está a Shekinah, a Presença de Deus.
Onde está Deus neste mundo? Não no Santo do templo de Jerusalém, mas na humanidade feita carne e sangue de Jesus, o Filho.
Assim termina o discurso de Jesus sobre o pão da vida. No fim, provavelmente, há mais coisas que não entendemos, realidades que não conseguimos perceber, em relação àquilo que compreendemos. Nós também talvez ficamos chocados com essas palavras, talvez não intelectualmente, mas ao acolhê-las para vivê-las. Mas se, como os Doze, não vamos embora, mas permanecemos com as nossas insuficiências junto de Jesus e tentamos ser seus discípulos, isso é suficiente para acolher o dom gratuito e não rejeitá-lo ou não percebê-lo: Jesus, homem como nós, no qual “habita corporalmente toda a plenitude da vida de Deus” (Col 2, 9), Deus mesmo.
Crer e reconhecer Jesus, o Pão da Vida
Marcel Domergue
Intolerável, mas necessário.
Estamos concluindo hoje a leitura do cap. 6 do evangelho de João ou, mais precisamente, a leitura dos discursos sobre o pão da vida e o dom da carne e do sangue. O pão, aqui, nos é mostrado como prova, da mesma forma que o maná tão presente neste capítulo (Ex 16,2-4). Os ouvintes irão se dividir entre crentes e não crentes. É que a ideia de comer a carne de um homem e beber o seu sangue é intolerável (v. 60). Mas não seria atenuando o texto que se faria um bom negócio. Para dizer a verdade, aquela frase do Sl 14,4 “quando comem seu pão é o meu povo que estão devorando” verifica-se todos os dias. Pessoas abastadas vivem da miséria, da fome e da morte de uma multidão de homens, mulheres e crianças que os nossos sistemas econômicos reduziram ao sofrimento e à míngua, no 3º mundo e em todos os “terceiros estados” ocidentais. E esta antropofagia assassina, velada e dissimulada, é generalizada. Pois esta carne e este sangue que, apesar deles, arrancamos dos homens é que o Cristo voluntariamente nos vem dar. Inútil dizer que isto não resolve o problema de nossas vítimas; isto simplesmente nos vem convocar a entrar na lógica deste dom total. Deus não impõe o amor com base na força; seria algo totalmente contraditório. Ele vem esboçar ante os nossos olhos a imagem desta via estreita, a única capaz de conduzir-nos à vida. Assim sendo, devemos primeiramente tomar a carne e o sangue que ele nos dá e, depois, fazer nosso o amor que comanda este dom.
Comer a carne e beber o sangue.
Do mesmo modo que se haviam revoltado quando lhes revelara a sua origem, ao dizer-lhes de onde viera (Jo 6,41-42), também agora os interlocutores de Jesus revoltam-se quando Ele lhes revela para onde vai – quer dizer, para o Pai – mediante a Paixão. Jesus, em substância, lhes diz o seguinte: se ficaram chocados por lhes ter anunciado o dom da carne e do sangue, o que irão dizer então, quando tudo isto efetivamente vier a acontecer, quando virem o Filho do homem subir para onde estava antes? Explicando um pouco mais: o dom da carne e do sangue é para sempre, para todos os instantes, desde o começo. A cruz é disto uma revelação, é a hora em que os tempos se cumpriram. O que não impede que Jesus dirija a seus indignados ouvintes, palavras surpreendentes. De fato, muitas vezes lhes havia dito que, para viver, era preciso comer a sua carne. Pois agora lhes diz que “a carne não adianta nada”. Ora, com toda evidência, a palavra “carne” não tem aqui o mesmo sentido. Ainda há pouco, aplicava-se a Cristo enquanto homem solidário com a natureza, carregado da argila original (Gn 2,7); agora, a palavra se enche do sentido negativo que vemos em muitos textos: a inaptidão em se alcançar o espírito. Quando Jesus diz que suas palavras não são carne, mas espírito e vida, quer sem dúvida dar-nos a compreender que não se trata de comer materialmente a sua carne, o seu corpo. Hoje, sabemos que isto se realiza através de sinais. Portanto, esta carne que foi entregue não deve ser compreendida de modo carnal.
Ainda os dois discursos.
Jesus, na visão de João, a partir de temas completamente diferentes, ensina coisas semelhantes. Apenas um exemplo: em 15,1-8, Ele explica longamente que, para viver, devemos permanecer n’Ele e Ele em nós. Ele é a vinha, nós os ramos; a seiva que vem Dele (pensemos no sangue) deve nos alimentar. Esta interioridade recíproca (Eu em vós, vós em mim) tem qualquer coisa a ver com o ato de comer a carne e beber o sangue. Ela só pode ser compreendida por quem aceitou o primeiro discurso, que nos diz que Cristo vem de Deus, é a presença de Deus. Mas isto, não basta. É preciso admitir ainda o dom da carne e do sangue. Olhemos mais de perto a resposta de Pedro quando Jesus pergunta aos 12 se também eles querem abandoná-lo. “A quem iremos? Só Tu tens palavra de vida eterna!” . Pedro compreende que não existe salvação possível se permanecemos fechados em nós mesmos; é preciso ir a outro, ir para o Outro. Ele, então, permanece com Jesus. Ótimo! Mas ele só havia entendido o primeiro discurso, não o segundo. Assim como em Cesaréia de Filipe (Mt 16,13-23), ele reconhece a origem do Cristo, mas permanece fechado para o futuro pascal. Ao menos, não faz a isso alusão alguma. Em verdade, a recusa ou esquecimento do segundo discurso revela não ter compreendido nem admitido totalmente o primeiro. Será preciso esperar Jo 21 para que Pedro se dirija sem reservas para Cristo. Nesta espera, se Jesus havia escolhido Pedro, Pedro, na verdade, não havia ainda escolhido Jesus. É aí que estamos todos nós.
Um Deus que se parece conosco
Raymond Gravel
Hoje temos a conclusão do discurso sobre o Pão da Vida, no evangelho de São João. Especialmente, no final deste discurso, não assistimos somente à oposição dos judeus, isto é, dos que não reconhecem o Cristo, mas também à oposição dos discípulos mesmos, que não aceitam o que se fala sobre comer a carne e beber o sangue: “Depois que ouviram essas coisas, muitos discípulos de Jesus disseram: ‘Esse modo de falar é duro demais. Quem pode continuar ouvindo isso?’'”(Jo 6,60). Quer dizer que para os primeiros cristãos, na comunidade de João pelo menos, não havia unanimidade sobre o conteúdo da fé em Cristo Ressuscitado. Dentre os católicos dessa época havia adeptos ao docetismo, doutrina que ensinava que Cristo parecia ser homem, pois ele era Filho de Deus. Então, as questões que hoje precisamos nos fazer são as seguintes: O que rejeitam os discípulos exatamente? Onde estamos nós hoje, em nossa fé no Cristo da Páscoa?
A recusa dos discípulos
O evangelista João há pouco fez a Jesus dizer: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). O que quer dizer que é pela sua humanidade assumida até o fim que Jesus se torna Cristo, Senhor, Filho de Deus, e que é vivendo ao modo de sua vida, adotando seus comportamentos e seus valores, em resumo, assumindo a nossa própria humanidade, que nós podemos esperar ressuscitar como ele e tornarmos nós também filhos e filhas de Deus, os cristos ressuscitados.
No fundo, o Cristo do Evangelho nos fala de um Deus que se parece conosco. É difícil de aceitar, simplesmente porque é difícil admitir e crer que nosso Deus só se manifesta através da nossa humanidade, com toda sua fragilidade e finitude. Um Deus tão frágil como nós não nos interessa. Foi isso o que fez dizer Papa Bento XVI em seu livro sobre Jesus: “Não teria sido mais fácil nos elevarmos acima das contingências deste mundo para perceber em uma pacífica contemplação o mistério inefável?”.
Mas não está aí a fé cristã. Deus se fez encontrar e reconhecer através de um homem, Jesus de Nazaré, em uma época e em um momento preciso da história. O Papa continua: “Deus se aproximou tanto de nós que parece deixar de ser Deus por nós”. E ainda é o que faz a riqueza da nossa fé, a grandeza, a beleza e a dignidade dos discípulos de Cristo, no que eles são e no que eles estão chamados a tornar-se. Infelizmente, em todos os tempos, as mulheres e os homens tiveram dificuldade de se assumirem na sua humanidade, daí a recusa de crer na humanidade de Cristo: “A partir desse momento, muitos discípulos voltaram atrás, e não andavam mais com Jesus” (Jo 6,66).
Os discípulos de hoje
Onde estamos nós hoje? O que acontece com a nossa fé cristã? Com certeza, hoje, há muitos homens e muitas mulheres que não acreditam em Cristo, nem mesmo em um deus. Estas pessoas têm as suas razões e devem ser respeitadas. Mas os outros, aquelas e aqueles que acreditam, como se situam em relação a esse discurso de São João sobre o Pão da Vida? Às vezes, olhando a nossa Igreja, tenho a impressão de que os cristãos de hoje, como aqueles de ontem, têm dificuldade em aceitar viver a sua humanidade e crer que é através dela que Deus pode ainda falar e se comunicar.
É isso o que Jesus de Nazaré veio nos ensinar, mas preferimos contemplá-lo como Cristo Ressuscitado, Glorificado, Senhor da Glória, fechado nos tabernáculos das nossas igrejas ou exposto no altar em um ostensório dourado, mais do que vê-lo andar na estrada, comer com os pecadores, atender às prostitutas, perdoar e amar incondicionalmente. Temos tanta dificuldade para olhá-lo tal como ele foi na sua humanidade: um revolucionário, um reformador, um libertador, que criamos uma instituição religiosa que é mais parecida com a religião legalista do Antigo Testamento do que com a Igreja primitiva. Quando a doutrina se fixa no cimento e ela não responde mais à realidade humana contemporânea, e quando a regra e a disciplina estão antes que a pessoa humana a qual eles deveriam servir, e que os dirigentes da nossa Igreja se obstinam em não adaptar-se às novas realidades, podemos verdadeiramente dizer que nós nos recusamos, hoje, comer a carne e beber o sangue daquele de quem pretendemos ser seus discípulos e de que afirmamos querer seguir.
Reatualizar a mensagem
Na segunda leitura de hoje, nós temos um bonito exemplo de um texto bíblico que devemos reler à luz de nossa realidade contemporânea. Para fazer isso, precisamos situar o texto em nosso contexto histórico, reinterpretá-lo e reatualizá-lo, se nós queremos permanecer fiéis a seu autor e se queremos fazer nascer uma Palavra de Deus hoje. No tempo de São Paulo, a mulher era uma propriedade do seu marido, quase a sua escrava; ela não tinha nenhum direito. É por isso que na carta aos Efésios, quando Paulo faz o paralelo da relação homem/mulher com a relação Cristo/Igreja, ele utiliza a imagem de um casal da sua época. Por outro lado, podemos dizer verdadeiramente que ele estava adiante de seu tempo, pois exortava os homens a amarem sua esposa, o que não era costume na época. Além disso, ele se colocava ao seu serviço, como Cristo fez com a sua Igreja: “Maridos, amem suas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25).
Se hoje pedíssemos para as mulheres serem submissas aos maridos, tal proposta seria inaceitável, e nós não seríamos fiéis a São Paulo. É por isso, por questão de fidelidade a São Paulo, que devemos convidar a Igreja a reconhecer a igualdade homem/mulher, o que ele não faz, dois mil anos após ele. Se quisermos respeitar o espírito da carta aos Efésios, se quisermos fazer nascer uma Palavra nova de Deus que corresponda à nossa realidade contemporânea, precisaremos reler São Paulo reinterpretando-o e atualizando-o para o contexto atual. Infelizmente, neste domingo, alguns vão ler esse texto bíblico de forma literária somente, correndo o risco de chocar uma parte da assembleia. E outros vão deixá-lo passar em vez de descobrir a sua novidade e a interpelação que o seu autor sugere à Igreja atual.
Terminando, a questão posta aos Doze no evangelho de hoje: “Vocês também querem ir embora?” (Jo 6,67), à qual Simão Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68) é para nós que ela é dita agora. E não basta responder com uma frase já pronta que seja parecida à de Pedro. Porque aceitar seguir o caminho com Cristo é comer a sua carne e beber o seu sangue, isto é, assumir a nossa própria humanidade até o fim, nos inspirando nela e nos deixando transformar por esse Jesus da história, para nos tornarmos com ele o que ele próprio se tornou na Páscoa: o Cristo, o Senhor, o Filho de Deus.