Ainda vamos a tempo de travar o aquecimento global? Ou teremos de nos adaptar a um planeta cada vez mais quente? Um estudo mostra por que estamos muito perto de ultrapassar um ponto de não retorno.

Os glaciares na Argentina estão em risco de desaparecer por causa das alterações climáticas ENRIQUE MARCARIAN/REUTERS
Nicolau Ferreira
7 de Agosto de 2018
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Desde 1980, a temperatura média da Terra subiu cerca de um grau Celsius por causa do aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, lançado na queima de combustíveis fósseis. O Acordo de Paris de 2015 foi a mais recente tentativa de travar esta escalada. Os países que ratificarem o acordo comprometem-se a reduzir as emissões de CO2 a partir de 2020 para que o aquecimento global não atinja os dois graus e, preferencialmente, se mantenha abaixo dos 1,5 graus.
A esperança é que assim se impeça os piores cenários, em que a temperatura média suba cinco ou seis graus e a Terra se torne uma verdadeira estufa, com desertos e savanas em vez de florestas, fenómenos meteorológicos extremos, e um nível médio do mar que faria desaparecer muitas regiões costeiras, incluindo a zona ribeirinha de Lisboa. Mas há um risco de que os dois graus já não cheguem para evitar esse cenário catastrófico, revela um estudo publicado esta segunda-feira na revista científica PNAS.
Esse risco está ligado à complexidade de vários sistemas terrestres que se influenciam entre si e têm impacto nas alterações climáticas como as calotas polares, as correntes oceânicas, o solo gelado das regiões boreais (permafrost), as florestas e a respiração das bactérias. Para já, estes sistemas ajudam a travar o aquecimento global, mas o aumento da temperatura da Terra acabará por inverter essa função.
“O nosso artigo é a primeira tentativa de resumir o risco dos sistemas da Terra ultrapassarem um ponto de não retorno”, explica ao PÚBLICO Johan Rockström, director-executivo do Centro de Resiliência de Estocolmo e um dos vários autores do artigo, que é assinado também por Will Steffen, que pertence ao mesmo centro e à Universidade Nacional Australiana, e por Katherine Richardson, do Centro de Ciência Sustentável da Universidade de Copenhaga. “Ou seja, mostra o risco de perdermos a resiliência da Terra, e de ela passar de um mitigador do aquecimento global, como acontece actualmente, para um agente activo do aquecimento global. Há cada vez mais dados científicos que mostram que se atingirmos um aumento de dois graus da temperatura média da Terra podemos ter atravessado esse ponto de não retorno. Mais cedo do que tínhamos pensado.