Seguir Jesus: O Evangelho de Mateus
Palavra – Testemunho – Comunidade

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Introdução

Como Maria, sentada aos pés de Jesus, iniciamos uma caminhada, progredindo dia após dia no discipulado e na missão. A liturgia do Ciclo A apresenta-nos o Evangelho de Mateus. Ele vai ser o nosso roteiro, o nosso GPS para esta quaresma e nos acompanhará logo a seguir com a experiência do Ressuscitado em nossas vidas pelos caminhos da Vida Religiosa Consagrada em saída profética.

Mateus salienta alguns eixos ou fios condutores: a Palavra, o Testemunho, a Comunidade. Queremos beber dessa fonte de vida, alegria e esperança, para caminharmos com os pequeninos iluminados pela Palavra (Mt 11,25), encorajados pelo Testemunho de tantas pessoas que vivem e semeiam Evangelho nos lugares mais arriscados do planeta (Mt 5,11-12; Lc 6,22-23), e vivendo e celebrando os frutos do Reino em Comunidade (Mt 18,1-35), pois a vida e os pobres nos mostram que “quando se dá esperança aos últimos se confere sentido à toda a realidade”.

Alegra-te e vive o Evangelho!
Mateus 6,16-18

Começamos algumas reflexões sobre o Evangelho de Mateus ao fio das leituras de quaresma, focando o eixo gerador do Evangelho e a finalidade pela qual foi transmitido, contado e escrito até chegar às nossas comunidades. Na leitura atenta, você pode descobrir, passo a passo, as pérolas escondidas e as marcas que o autor foi colocando: como numa cidade! Você vê os sinais e se orienta, assim também a leitura e escuta do Evangelho de Mateus nos orienta no Seguimento de Jesus e na prática libertadora do Evangelho na Comunidade e nos impulsiona para a missão profética até os confins do mundo: “Ide, fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28,20).

De entrada, salientamos os eixos e as marcas que o autor foi deixando ao longo do relato, porque o Evangelho de Mateus, como os outros, é fruto maduro de comunidades que escutaram a Palavra do Mestre, seguiram seus passos pelos poeirentos caminhos da Galileia, lembraram suas palavras e sua prática libertadora e comunicaram tudo isso sobre os telhados, porque seu coração de criança não podia guardar para si tanta alegria e beleza. Esse é o segredo que está por trás e por baixo do texto que nos legaram as testemunhas oculares e os ministros da Palavra: uma fonte de Vida, Alegria e Esperança!

Essa fonte pode brotar hoje no coração de cada pessoa e comunidade quando no silêncio do coração deixa que a Palavra de Jesus, com toda a sua força e autoridade, toque a vida dos homens e mulheres de hoje, colocando nossas vidas e comunidades, literalmente, “de pernas para o ar”. Isso acontece cada vez que levamos as palavras e gestos de Jesus a sério, como Francisco de Assis, “vivendo o Evangelho sem glosas”, pois uma “palavra do Evangelho pode preencher toda a vida de uma pessoa” (Olindo Furlanetto), ou como aquela pessoa que estava lendo o Evangelho em Barcelona e fixou a sua atenção: “Amar os inimigos, perdoar de coração…”. Aí ela se tocou e disse: “Isso não pode, não pode, não pode!”. E foi, pegou uma escada e colocou sua Bíblia de castigo por uma semana encima do armário!

Mas, essa é a força interpeladora da Palavra proclamada, nesta quarta-feira de cinzas, quando o Evangelho retoma as três práticas tradicionais: da esmola, da oração e do jejum, e Jesus interpreta como vinho novo do Reino, não como os doutores da lei e os fariseus (Mt 5,20). E Jesus nos convida assim: «Quando vocês jejuarem, não fiquem de rosto triste, como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto para que os homens vejam que estão jejuando. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. Quando você jejuar, perfume a cabeça e lave o rosto, para que os homens não vejam que você está jejuando, mas somente seu Pai, que vê o escondido; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você» (Mt 6,16-18).

E se nós, pessoas e comunidades consagradas, trocássemos em miúdos assim: “Alegra-te: Vive o Evangelho!” não daríamos mais vigor, coragem e solidariedade ao nosso mundo, sedento de vida, alegria e esperança?

Justino Martínez Pérez
Missionário Comboniano