
Esta última chega a ser silenciosamente arquitetada, com diálogos fictícios cheios de ardor e rancor, ríspidos e violentos, os quais, no entanto, jamais serão verbalizados. Afinal, sem coragem para atacar, costumam engolir em seco não só a própria ameaça, mas também o tiroteio interior das palavras não ditas.
Os outros, em lugar disso, sempre atentos e alertas ao perigo, desenvolvem a tendência do bíblico “olho por olho, dente por dente” ou do popular “deu, levou”! De imediato, respondem à agressividade com o dedo e a palavra em riste, dispostos sempre à luta. Neste caso as ameaças, longe de os amedrontar ou inibir-lhes o brio, estimulam ao desafio e à disputa. Cada golpe recebido comporta uma reação à altura, isto é, se possível superior ao ataque. Vale justamente a máxima do futebol: a melhor defesa é o ataque. Jamais lhes falta unhas e dentes afiados como navalha, uma língua e um raciocínio ágeis e prontos para uma reação rápida e eficaz. Tampouco lhes falta um arsenal de “armas” inimaginável para os primeiros que, emudecidos, não sabem o que dizer.
As pessoas semelhantes às flores e caramujos, exibindo uma aparente delicadeza, na verdade sofrem nas entranhas mais profundas. Tudo engolem, mas nem tudo são capazes de digerir. Acumulam ressentimento sobre ressentimento, o que impossibilita qualquer diálogo transparente. A longo prazo, tal sofrimento pode desenvolver uma atitude permanente de autodefesa. Em casos doentios, costumam construir um escudo que os isola do grupo, da relação ou de um convívio sadio e saudável. Levantam uma barreira preventiva a todo e qualquer tipo de comunicação. Revelam-se (ou se tornam) extremamente introvertidos e avessos ao mínimo contato. Criam muros e evitam pontes!
As pessoas que se assemelham a serpentes ou galos de briga, por outro lado, tendem a ver em tudo e em todos um risco de ameaça. Nas situações mais diversas, comparecem sempre armadas. “Não levam desaforo para casa”, diz-se. Devem ter a última palavra, desferir o último golpe, permanecer “por cima”.
Também aqui o diálogo aberto e franco torna-se impossível. A razão é simples: tais pessoas trazem sempre a resposta pronta, mesmo antes de a pergunta ser formulada. São incapazes de ouvir os argumentos do interlocutor porque consideram “perda de tempo”. Vão logo à solução final, definitiva e na maioria das vezes intempestiva. Agem de forma impulsiva, impetuosa!
As duas caricaturas acima representam tendências extremas. A realidade é bem mais complexa: entre um pólo e outro do espectro, existe uma infinidade de posições intermediárias. Depois, cada pessoa em particular possui algo de caramujo e algo de serpente, avizinhando-se de um ou outro lado do espectro. “Virtus in medium est” (a virtude está no meio) – diria o velho Aristóteles. Fica de pé a pergunta: entre o caramujo, que ao menor toque esconde-se para fugir ao confronto, e a serpente, sempre pronta a saltar sobre o adversário –como cultivar uma relação equilibrada e harmoniosa, sem que nenhum dos dois tenha necessariamente de “perder” ou “ganhar”? Eis o grande desafio!
Pe. Alfredo J. Gonçalves
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