Violência e terror no Paquistão.

Dois jovens paquistaneses maltratados e queimados vivos

2009_10_22Violência e terror no Paquistão. Uma multidão enfurecida maltratou e depois queimou vivo um casal de jovens cristãos, acusados de blasfémia por terem profanado o Alcorão. A dramática vicissitude – referida pela agência Fides – teve lugar na aldeia Chak 59, nos arredores da pequena cidade de Kot Radha Kishan, a sul de Lahore, no Estado norte-ocidental de Punjab. Lahore é a mesma cidade onde o Supremo Tribunal paquistanês confirmou recentemente a condenação à morte de outra cristã acusada de blasfémia, Asia Bibi, mãe de cinco filhos, na prisão desde 2009.

Segundo as forças da ordem, depois de terem sido espancados de modo selvagem, os dois jovens – Shahzad Masih e a sua esposa Shama, respectivamente 26 e 24 anos – foram lançados para uma fornalha por um numeroso grupo de muçulmanos provenientes das aldeias circunvizinhas. Logo depois, muitas famílias de cristãos na região fugiram. Os dois jovens cristãos eram casados e tinham três filhos. Além disso, Shama estava grávida. Segundo a reconstrução fornecida pelos meios de comunicação, a acusação de profanação do Alcorão está ligada à morte recente do pai de Shahzad. Há dois dias, Shama, limpando a casa do pai do marido, tinha deitado fora alguns objectos pessoais do sogro, sobretudo papéis e documentos, que – considerados inúteis – foram queimados. Segundo um muçulmano, colega dos dois jovens e que estava presente naquela situação, na fogueira teriam sido queimadas algumas páginas do Alcorão.

2014-11-05 L’Osservatore Romano


Protestos no Paquistão pelo casal cristão queimado vivo

Kasur (RV) – O bispo de Islamabad/Rawalpindi, Dom Rufin Anthony, descreve da seguinte forma o brutal assassinato de um jovem casal cristão, pais de quatro filhos, apedrejados e depois queimados vivos: “um fato trágico. Atacar e queimar vivos, dois inocentes, em base a meras alegações, é uma negligência do sistema judiciário”.

Shahzad Masih, 26 anos, e sua mulher, Shama, de 24 anos e que estava grávida, foram linchados por uma massa enfurecida de ao menos 400 pessoas, motivadas por um líder religioso local por causa de um suposto caso de blasfêmia.

O fato aconteceu nesta terça-feira (4), numa fábrica no distrito de Kasur, a cerca de 60 Km da Lahore, no estado de Punjab, no Paquistão. Até agora, a polícia teria parado ao menos 45 pessoas para interrogatório, mas não há incriminação oficial. Os quatro filhos do casal estão numa localidade desconhecida que não se têm notícias. Os autores da violência brutal fugiram, não deixando pistas. Líderes religiosos cristãos, ativistas pró-direitos humanos e membros da sociedade civil do Paquistão expressam horror e consternação pelo ocorrido em Lahore. Peter Jacob, secretário executivo da Justiça e da Paz da Igreja Católica do país, fala de “brutalidade que lança uma sombra sobre a nação” e manifesta “condolências à família das vítimas”, desejando que o governo “garanta, de uma vez por todas, segurança às minorias”.

Padre James Channan, diretor do ‘Peace Center’ di Lahore, um Centro de Estudos empenhado no diálogo inter-religioso, comenta o homicídio do casal cristão: “estamos chocados e preocupados. Os cristãos no Paquistão hoje se perguntam: em que país vivemos? A horrível e bárbara execução de dois cônjuges cristãos, acusados de blasfêmia, é um ato que ofende a justiça, os direitos humanos, a dignidade humana, a civilização, e é contrário ao estado de direito. Hoje, manifestamos pela justiça e pelos direitos humanos para Lahore. Sobre a lei sobre a blasfêmia, pedimos a intervenção da ONU”. A lei da blasfêmia, em vigor no Paquistão desde 1986, já fez muitas vítimas inocentes: a estimativa é que mais de 80% dos casos sejam embasados em falsas acusações.

Já o Conselho de Ulemás do Paquistão (Puc), pede “uma investigação imparcial sobre o ocorrido”. Em nota, Muhammad Tahir Ashrafi, presidente Del Puc, condena a violência, expressando “profunda dor”, e afirma que “isso não teria acontecido se a polícia local não tivesse mostrado negligência”. Se o casal era realmente culpado, se questiona o Puc, “por que a polícia não prendeu eles, depois da denúncia dos residentes locais? Ou, se não eram culpados, por que não foi oferecida uma proteção imediata a eles, em vista da reação desequilibrada da população?”. (AC)

2014-11-05 Rádio Vaticana